JUAN MANUEL ROCA II
Poeta, critico, ensaista, um dos mais importantes colunistas do nosso tempo, recebeu o Poeta colombiano Roca, inúmeros prémios, e a propósito dos mesmos escutei em Barcelona que Roca se lhes referia dizendo em voz alta o seu próprio poema
Arte do Tempo
O tempo permanece
Apanhado entre os livros.
Por este prodigio de apreensão,
Heraclito continua a banhar-se
No mesmo rio,
Na mesma página.
Tu continuarás para sempre
Nua no meu poema.
Enfim, Roca exorciza como resistência espiritual, o tempo que os homens lhe dão em possíveis tempos de o medir, mas nunca se asila numa tranquilidade. E Roca entende eventualmente a imensidão de prémios como se duvidasse e aceitasse a distância, ambas aldeias perdidas que mudam a canção para visitar outro país. Assim entendi.
Nuno Júdice referindo-se a Roca, afirma que a sua literatura quando fala do individuo fala sempre de ninguém e ninguém é o personagem eterno da literatura. Diz o senhor Nabokov que a literatura não nasceu quando uma criança de um vale de Neandertal chegou a gritar: Um lobo! Um lobo!, e atrás dele, as quatro patas no ar, um lobo cinzento brandia a sua língua estralejante. Diz, melhor, que a literatura nasceu quando uma criança de um vale do Neandertal chegou a gritar: Um lobo! Um lobo!, e atrás dela não vinha ninguém.
Desde então, ninguém é um personagem eterno, um fantasma nos vales dos poemas de Roca. Ninguém é o que falta, o que foi e o que será. Deste ninguém surge a obra, diria. Surge de novo Nabokov, reflectindo que entre o lobo da floresta e o da história existe um meio-termo e por esse prisma habita a arte da literatura.
Um dia jantava eu num restaurante virado ao mar em plena noite de verão. Entre mim e o mar apenas a silhueta de uma tocadora de harpa. A música untada de infinito regressou-me a Bogotá nas ruas de Paris que Juan Manuel Roca já habitava, e naquela hora em que me deslizavam sonhos
ORAClÓN AL SEÑOR DE LA DUDA
Más que fe, dame un equipaje de dudas.
Ellas son mi puente, mi afluente, mi oleaje.
Venga a nos el Reino de lo Incierto.
Mantén en vilo mis verdades,
Concebidas, muertas y sepultadas
En los telares del olvido. Llévame
Por las arenas movedizas,
Dame a comer el pan de la derrota,
A beber el agua del silencio.
No hay timos ni trucajes:
Estoy herido y soy mi camillero.
Sean las certezas palacios de nieve
A los que alguien asedia con el fuego.
Señor de la duda, si existieras,
Escucha la oración del descreído
Surgiu-me ainda aquela pequenina bíblia:
Lugar de aparições (Inicio)
A mulher que amei converteu-se
em fantasma.
Eu sou o lugar das aparições.
JUAN JOSÉ ARREOLA
A grande reflexão sobre a liberdade, caminho de vida de Roca, leva o poeta Germán Espinosa a dizer que Roca tinha em si a primavera perpétua de todo o criador. E nunca lhe foi estranho Rimbaud, entre outros, o Romantismo Alemão, a sua capacidade imensurável para escrever liricamente a realidade. Curioso que a sua única novela publicada em 2003 se intitula “Esa maldita costumbre de morir”
Repito que num livro de Juan Manuel Roca, a claridade tem este rosto
El silencio es una lengua muerta. Sólo algunos pocos lo conocen.
E quando falo de ti, falo sempre do lado de cá do nascimento: só a sentir.
Teresa Bracinha Vieira
Junho 2016