LONDON LETTERS
The Paris killings, 2015
Um crime é um crime; não uma guerra. Os massacres perpetrados na redação de um jornal satírico e num supermercado hebreu em Paris são crimes de ódio, à ironia e à diferença, mas não uma guerra de civilizações. Morreram pais, mães, filhos; não, todavia, as liberdades, pelas quais marcham milhões de pessoas emolduradas em nova family photo dos líderes europeus acompanhados por embaixadores ocidentais. — Madame Yourcenar l’ecrit:
Le jour où il ne serait plus de mode de s’exterminer pour la cause de la religion, se donneraient cours autrement! A escalada em torno dos horrendos ataques terroristas feitos nestes dias por um grupo de loucos em nome de Allah reclama especial cuidado das chancelarias na gestão dos conceitos, sobretudo quando os alvos seletivos coincidem com pilares da democracia e os jihadistas circulam com europassaportes. Prescreve ainda uma maior atenção às forças de segurança no labirinto líquido do globalismo. — Humm, it could well happen here! Dentro do reino vive-se um suavíssimo e bem humorado desencadear das hostilidades eleitorais. O Prime Minister RH David Cameron traça o cartoon: Ou os Conservatives ou o caos!
Snow showers by these days no rescaldo dos brutais acontecimentos em France. Muito ainda falta no quadro analítico. Confirmam um motto do Charlie Hebdo aquando das primevas ameaças pela publicação de caricaturas de Muhammad em grafitado maço de tabaco com lápis – Drawing can kill you! Ser judeu, também. A resposta ocidental a um cinturão islâmico em chamas tem vulnerabilidades e exige inteligência, algo diverso do debate político centrado na gestão das perceções e menos das capacidades, nomeadamente na questão de dar mais poderes às agências para monitorizar a privacidade dos cidadãos e descuidar da coordenação internacional que o leque de ameaças há muito impõe. A maligna surpresa do ISIS na conquista do Irak-post-US só pode causar a maior das perplexidades e desconforto em todo The West. Como Mr Andrew Parker, The Head do MI5, informa numa intervenção realizada na Thames House — “An attack on the UK is highly likely.”
O terror em Paris insere nova claridade na sensível e sempre tensa dialética entre liberdade e segurança. The West tem um problema de terrorismo e de integração das gentes, a que o laxismo em torno dos controlos nas fronteiras não ajuda – incluindo as virtuais. Mas encontra-se algo mais nesta doença de cores islamizadas: o extremismo, pautado por uma ideologia que em tudo se assemelha a perverso culto de morte. Face às doutrinas do fim ou da vingança da História, em dó maior ou menor, com ou sem revisionismos, recordo the appeal das forças da vida. Nas quais o riso tem um espaço maior, como nas censuradas publicações muçulmanas dos princípios do século passado.
A envolvente de barbárie que subitamente nos envolveu não obscurece por cá o brilho próprio dos BAFTA Awards, decerto por divina graça das humanas criaturas. Na lista de nomeações agora revelada por The British Academy of Film and Television Arts pontua um honorável trio de películas: The Grand Budapest Hotel, de Wes Anderson; The Theory of Everything, de James Marsh; e The Imitation Game, de Morten Tyldum. Aposto que daqui sai o best actor, entre Ralph Fiennes (como Gustave H.), Eddie Redmayne (Stephen Hawking) ou Benedict Cumberbatch (Alan Turing), ainda que sob acesa, paralela e mediática concorrência de Nigel Farage, David Cameron e George Osborne entre os protagonistas nos thrillers políticos.
A preparar a bem policiada cerimónia agendada para 2015 February 8, na Royal Opera House de Convent Garden (London), o Professor David Carpenter publica na Penguin Classics uma nova tradução com comentário da Magna Carta. O Fellow do King's College é um dos co-investigadores do Magna Carta Project, centrado na British Library e com o patrocínio do UK Arts and Humanities Research Council. A obra relê o pergaminho de 2015 onde justamente se inscreve basilar item na história da democracia universal. — No free man shall be seized or imprisoned, or stripped of his rights or possessions, or outlawed or exiled, or deprived of his standing in any other way, nor will we proceed with force against him, or send others to do so, except by the lawful judgment of his equals or by the law of the land.
St James, 13th January
Very sincerely yours,
V.