Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

To be or not to be European 1.JPG

To be or not to be European, 2015-17

 

E aqui vamos nós… again. The Right Honourable David Cameron inicia a maratona europeia destinada a culminar num referendo sobre a Brexit imediatamente após The Queen’s speech em Westminster, enquanto o Chancellor of the Exchequer George Osborne simplesmente ordena à administração pública que proceda a novos cortes nos gastos em Whitehall.

To be or not to be European 2.JPG

Se no continente o objetivo da renegociação dos tratados soa hoje a utopia política, a meta de £13 bn em poupanças no reino assemelha-se a uma miragem financeira. — Chérie. Revenons à nos moutons! O mistério de May 7th mora no microscópio. A mais recente descoberta revela que as minorias étnicas votaram Conservatives. As peregrinações do Prime Minister aos templos budistas com um barrete laranja conquistaram faixas amiúde partidárias do Labour, mas por desvendar está o mix das palavras: negra para os emigrantes e rósea face à aspiração de mobilidade social. — Hmm. Things are not always as they look like. Master William Shakespeare regressa à cena sob tese de a sua imagem figurar no frontespício da magnus opus do botânico John Gerarde. HRH Prince Charles of Wales faz uma visita histórica a Mullaghmore (Ireland). A bandeira negra do Isis flutua em Palmyra. O Professor John Nash despede-se em New York.

To be or not to be European 3.JPG

Lovely weather around. A condizer com a agradável atmosfera está o animado debate em torno do amado Master Will. Afinal, why didst thou promise such a beauteous day? A proposta floral vem na última edição da Country Life (May 20), na qual o historiador Mark Griffiths defende a tese de o bardo figurar no rosto do John Gerarde’s The Herball, de 1587. Ora, como diziam já os itálicos na era de Elizabeth I, se non è vero, è ben trovato. O argumento é um tanto rocambolesco e assenta numa cifra ao estilo do Da Vinci Code, mas as conexões estão corretas e são apelativas a qualquer leitor acidental. O autor da Generall Historie of Plants é o herbalista Tudor por excelência, nascido em 1545 e sagrando a expertise em vida do poeta como superintendente dos jardins no Lincolnshire de William Cecil, Lord High Treasurer e 1st Baron Burghley, conselheiro da Queen Bessie. Sabida é também a paixão shakespereana pelas plantas, dadas as usuais referências à jardinagem e às ervas nas suas obras. Das suaves em Antony and Cleopatra (“As sweet as Balm, as soft as air, as gentle”) ou King Henry the Fourth (“For though the chamomile, the more it is trodden on, the faster it grows, yet youth, the more it is wasted, the sooner it wears”) às vigorosas em Winter’s Tale (“Hot lavender, mints, savory, marjoram, / The marigold, that goes to bed wi’ th’ sun / And with him rises weeping. These are flowers / Of middle summer, and I think they are given / To men of middle age”), sem alhear a ironia doméstica das praticalities em A Midsummer Night’s Dream ("And, most dear actors, eat no onions nor garlic, / For we are to utter sweet breath”) ou ainda a magnificência em Romeo and Juliet (“What's in a name? that which we call a rose: By any other name would smell as sweet”) e em Hamlet (“Look at my flowers. There’s rosemary, that’s for remembering. Please remember, love. And there are pansies, they’re for thoughts”). Se sua é a figura no clássico entre os clássicos das ervanárias, não sei aferir, mas as ideias valem também pelo que em nós invocam.
Em paisagens belíssimas esteve Charles of Wales por estes dias em que parte a beautiful mind. Aos 86 anos falece o genial matemático John Nash, com a esposa Alicia, deixando os trabalhos que lhe outorgaram o Nobel Prize for Economics em 1994 e a inspiração para o memorável filme de 2001 protagonizado por Mr Russell Crowe. Já a visita oficial a Ireland cedo demais é cunhada como um marco pastoril no processo de reconciliação nas ilhas britânicas. Durante quatro dias, o Prince da House of Windsor fez coisas inimagináveis há bem pouco. A um tempo ruma a Mullaghmore, a vila pesqueira na costa oeste aonde há 36 anos Lord Mountbatten e familiares perdem a vida num atentado do IRA. A outro tempo, o próximo rei aperta as mãos com Mr Gerry Adams e observa o olhar do líder dos contrários. O passo real não é por todos bem-vindo. Que as divisões persistem aquém do mar em Co Sligo, tal qual além Channel, ilustra-o as rijas opiniões de Mr Peter Hitchens no Mail on Sunday: "How strange to live in a country where the heir to the throne would rather publicly clasp the hand of a Republican apologist for political murder than privately meet a loyal patriot and monarchist. But there it is. Nothing is but what is not. We must learn to live our lives backwards, sideways, every way but straightforwardly." — Well. He who knows the danger may with care pursue his journey. And… Fairwell, Professor Nash.

 

St James, 25th May

Very sincerely yours,

V