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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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LONDON LETTERS

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The Summer silly season, 2015

A época é propícia, todos o sabem. Ainda assim, tudo indica que o Labour Party vive inquietos dias de excesso entre os quatro candidatos na corrida à liderança, as advertências de Mr Tony Blair contra o regresso às fileiras da doença infantil do esquerdismo e agora até a apimentada queda em desgraça de um dos seus mais destacados representantes na House of Lords. — Chérie! À chaque fou plaît sa marotte.

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A perspetiva de RH Jeremy Corby MP ser entronizado com o seu Lenin hat na leadership election de 12 September 2015 simplesmente coloca os trabalhistas à beira de sério ataque de nervos. A gerir a tormenta está a Interim Leader RH Harriet Harman, a braços com a rebelião de 48 MPs contra a sua orientação de voto abstencionista na Tories’ Welfare Reform & Work Bill. A coisa vai de tal modo que a Press tanto escreve sobre a possibilidade de o Lab se partir quanto clama pelo imperativo de ter operativa Her Majesty's Most Loyal Opposition. — Hmm. The wise do at once what the fool does at last. Para variar, bons ventos sopram no Channel. Mr Chris Froome vence a Tour de France, sendo o único Brit a averbar tal feito pela segunda vez. Turkey dá sinais de adesão ao combate contra o Isis. Dez meses depois do voto unionista, RH Alex Salmond finalmente declara que um segundo referendo sobre a Scottish independence é inevitável. Também Mr Paul Krugman afirma no New York Times que a Grexit “is still inevitable.”

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Brave Summer tales around. O Kent está em quase estado de sítio devido a longuérrimas filas de trânsito, à crise dos migrantes a salto e ainda uma pacífica invasão de turistas continentais. Com o tempo a oscilar entre delicado sol e eventos metereológicos a escalar até os yellow warnings de ventos e chuvadas, as notícias revelam o gosto local pelo excêntrico qb. Assim: gaivotas atacam merendas em Brighton e um esquilo causa estragos num English pub, onde, narra bem informado jornal, depois de uma entrada ilegal, “got drunk, and went on a rampage.” Pior, porém, em paragens nortenhas: após 24 anos em busca do ilustre Loch Ness monster, o Nessie dos vitorianos, um desapontado explorador conclui que “Scotland’s fabled beast is just a big catfish.” Que dizer desta ementa para conversas de praia no glorioso South East England?

Mais em linha com o arraial no Labour Party em dias de ímpeto dos Scottish spirits e de um fantástico Lord filmado em festival de sex & drugs com comentário político à mistura, diversas singularidades surgem nestas leituras na areia. Primeira, uma “still inevitable Grexit” que Mr Krugman profecia com exame da estagnação económica no European South: “This is what happens when self-indulgent politicians ignore arithmetic and the lessons of history.” Segunda, um don’t worry that Europe hates us pela pena de Herr Yannick Nock no Süddeutsche Zeitung: ”European leaders have repeatedly begged Chancellor Angela Merkel to «take the helm» and lead the Eurozone out of its debt crisis. She did—but nobody is grateful. Instead, much of the European press blames Germany for imposing harsh austerity measures on Greece. (…) They want Merkel to show more sympathy... But schmoozing is not Merkel’s forte… She makes tough decisions and owns them. And the truth is, plenty of other European leaders, notably from Finland, the Netherlands, and Austria, are only too happy «to hide behind Merkel’s broad shoulders»… Germany’s best response to this media thunderstorm is to slip on a raincoat and let the hostility simply wash over.”

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Ora, o Guardian noticia uma mudança de tendência nas leituras deste 2015 Summer. Ao invés da perceção de uma preferência por something undemanding, os ledores antes optam por "large and testing books." Em alta obviously está Go Set a Watchman, de Mrs Harper Lee, raiz do quase sagrado Kill a Mockingbird (passado à tela por Robert Mulligan em 1962, com o encantador Mr Gregory Peck). As tabelas dos mais vendidos na Waterstones, Foyles &tc mostram títulos como The Mersault Investigation (de Kamel Daoud), The Buried Giant (Kazuo Ishiguro) e ainda a trilogia das Neapolitan Novels (Elena Ferrante). Destaque para o primeiro livro, da autoria de um jornalista algeriano do Quotidien d’Ouran, como ousada reinvenção do clássico L'Étranger pelo amado Monsieur Albert Camus. Vencedor do English Pen Award e do Goncourt du Premier Roman, trata-se da história do irmão mais novo do nunca denominado árabe morto numa praia de Algiers no romance original de 1942. Uma obra e outra arrancam sob o signo da mátria árabe: “Mother died today. Or, maybe, yesterday; I can't be sure,” abre o 1957 Nobel Prize in Literature. “Mama’s still alive today,” lê-se nas linhas do escritor cedo acusado de blasfemo colaboracionismo por radicais islâmicos. O assassino francês dá agora o nome à investigação, mas é a voz e o olhar do jovem Harun que conduzem a visitação ao drama familiar subsequente ao desaparecimento de Musa, num país então em vias de revolucionária libertação colonial. — The history is good to forget; that is why it is good to know.

 

St James, 27th July                

Very sincerely yours,

V.