LONDON LETTERS
A Royal record, 1953-2015
Deus habita no pormenor. Aquele feixe único esquecido na seara não deve ser recuperado, mas antes ficar no campo “para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva,” assinala Deuteronomy (24:19). A
majestosa grandeza do ser humano ecoa no cananeu vertido na King James Bible e no Book of Common Prayer. A partilha da água na pobre ilha grega de Kos contrasta com a indiferença motorizada que passa pelas marchas dos refugiados nas estradas europeias. Eles buscam Deutschland, o UK ou tão só alguém que os acolha. — Chérie! Prudence est mere de sûreté. HM Elisabeth II baterá o recorde da Queen Victoria de 63 anos e 216 dias no trono a September 9, investindo-se como the longest-reigning monarch in British history. A sua coroação aos 25 anos data de 1953 June 2. — Well, well! Long to reign over us. O desfecho eleitoral na liderança no Labour Party está em contagem decrescente, com o estimado Robert G ainda às voltas em Cambridgeshire com a literatura dos candidatos. Brussels reúne mais um conselho de ministros de emergência a September 14 para decidir as quotas nacionais na hospitalidade aos refugiados.
Changing skies na London outonal, com o gardening a solicitar preparativos e novos trabalhos. A longevidade do feliz reinado de Her Majesty merece-o: somos os New Elizabethans. Observe-se Britain e o mundo em quatro marcos: a Coronation em 1953, o Silver Jubilee em 1977, o Golden Jubilee em 2002 e o Diamond Jubilee em 2012.
Pense-se no seu poder moderador no discreto Buckingham Palace ou ainda na sageza do papel estabilizador como Head of the Commonwealth no reinventado mapa do império no pós-guerra. Examine-se a magna discrição do cetro na espuma destes dias políticos mais propensos ao entretenimento populista que ao complexo bem comum. Sem fações ou divisionismos. Seja qual seja a perspetiva, HM Elisabeth of Windsor tem grinalda no olimpo das modernas monarquias parlamentares democráticas. Pela paz e sentido de dever, tal qual pela modelar cortesia que a carateriza e ainda a segura confiança que a todos inspira dentro e fora das portas do reino. Assim é uma força da boa ventura. Vivat Regina Elizabetha!
Sobre os migrantes, Mr Tim Stanley anota no Telegraph a questão fundamental: “How far are we prepared to blur the boundaries between the developed and the developing world in pursuit of human good?” A inação da European Union e o alheamento do rest of The West incomodam. As imagens de uma criança jazente em praia turca ou o sofrimento na face do pai espalham-se pela Press e o próprio presidente da European Commission admite que “[w]e need a strong European approach on migration. And we need it now.” Monsieur J-C Juncker pontua-o no Twitter para banhar a consciência dos 500 milhões que cá somos. O velho continente vive a maior catástrofe humanitária desde a II World War: chegaram já cerca de 270,000 refugiados. Só o Lebanon agasalha 1,2 milhões de sírios. A Bundeskanzlerin Frau Angela Merkel sabe-o. Quantos mais dos nossos líderes compreendem que não mais é época de palavras, antes, sim, é tempo de agir e salvar vidas? E também de politicamente gerir o medo larvar dos que vêm o estranho como uma ameaça à sua prosperidade e/ou até uma velada ofensiva contra a identidade cristã e os valores democráticos. O peregrino é sempre um estrangeiro. Mas podia ser qualquer um de nós. Aquele cartaz de boas-vindas na estação de comboios em Munich (Ger) relembra a “alegria com lágrimas” de muitos outros em outras paragens. Vielen Dank.
The House of Lords bate um novo recorde no número de membros: 790 pares, muitos a título de jobs for the boys and the girls. Após uma nova fornada de peers designados por The Prime Minister, aliás, deveras favorável ao respetivo círculo de amigos e de colaboradores políticos, é agora the world's second largest legislative body (atrás do China's National People's Congress). A Conservative Leader na 2.ª câmara concede que é igualmente chegada a hora de reformar a famosíssima The Upper House no sistema de Westminster. Se o Mayor of London apela a um Dignitas-style euthanasia plan para refazer a dispendiosa casa sobrelotada, no arrojado modo do RH Boris Johnson, já a suave Baroness Stowell of Beeston sugere que “age or term limits” são utensílios úteis para refundir um parlamento que se quer capaz e “commands legitimacy”. — Hmm. Where the one is fickle the other is enduring.
St James, 7th September
Very sincerely yours,
V.