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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

A tale of two conventions, 2016

 

Que escreveria Mr Charles Dickens entre Cleveland e Philadelphia após visionar as convenções partidárias republicana e democrata nas eleições para a US White House? Aquele é o melhor dos candidatos, aquele é o pior dos candidatos, é o discurso da sabedoria, é o discurso da temeridade, é o voto do acreditar, é o voto da incredulidade, é a mensagem da luz, é a mensagem das trevas, é a primavera da esperança, é o inverno do descontentamento, tudo temos diante de nós, nada temos diante de nós, todos vamos diretos para o céu, todos vamos diretos no caminho contrário.

As arenas da aclamação de Mr Donald J Trump e Mrs Hillary R Clinton dizem tanto das dissemelhanças presentes quanto dos futuros imperfeitos. — Chérie! Aux grands maux, les grands remèdes. O novo comissário britânico em Brussels recebe a pasta da segurança em pleno European bloody Summer. Com o Isis a reivindicar ataques em France e Germany, dois jihadistas assassinam um padre católico numa igreja da Normandy. Face à barbárie sacrílega, crentes da cruz e do crescente oram juntos na catedral de Notre Dame (Paris) — Humm! Do not burn the candle at both ends. A IMF Director Christine Lagarde vai a julgamento como negligente ministra das finanças, pelo pagamento de €400m públicos a famoso empresário num diferendo com um banco estatal. Três banqueiros irlandeses são condenados a penas de cadeia por fraude financeira de €7bn. Pope Francis medita no Auschwitz Camp (Poland).

 

Rainy and cloudy summertime at the City. O habitual murmurinho em torno do Thames River sobe de volume no weekend. Não bastara a tradição corbynista dos protestos em Westminster Disctrict como nova modalidade de repouso semanal para as massas em processo apressado de consciencialização classista, eis ruas e pontes fechadas ao trânsito em virtude da invasão de milheirais ciclistas na RideLondon 100. A cor da corrida é escoltada pela tensão dos nativos. Problemático é circular nas 100 milhas condicionadas entre a partida do Queen Elizabeth Olympic Park, em Stratford, as voltas pelo Surrey e a meta em pleno Mall! Uma emoção, todavia, aberta com excêntricos amadores na Saturday’s RideLondon FreeCycle rodando desde a Central Lon de Blackfriars, Trafalgar Square e Chelsea Embankment ao East de Tower Hill ou West Knightsbridge. A quadrar os espíritos, HMaj Government delay o projeto Hinkley Point C. Para aferir do alvo, interesse pátrio e efeitos externos, note-se que a primeira central nuclear do UK em 20 anos vale £18bn a edificar em Somerset e tem financiamento chinês e tecnologia gaulesa. Na valsa política avulta analogamente um aviso à navegação emitido pela House of Lords. Os pares eurófilos querem a Brexit sob escrutínio prévio e prefiguram uma crise constitucional se acaso enveredarem por refrear a vontade popular expressa no referendo de June 23rd. Já a Prime Minister RH Theresa May prossegue impassível nos preparativos de an orderly departure da Union. Recebe no No. 10 o Irish Taoiseach Enda Kenny e visita Rome, Warsaw e Bratislava, avistando-se com os homólogos Mr Matteo Renzi, Mrs Beata Szydło e Mr Robert Fico. O tom tranquilo destes encontros é sintetizado na capital italiana pela Premier: ― “[W]e have talked not just about a successful Brexit but also about how we work together (…) to respond to the complex global challenges we face.” Donde: terrorismo e emigração sobre a mesa. 

 

A suavidade diplomática da senhora contrasta com agendado furor legado pelo seu antecessor. Na hora de dizer adeus a Downing St, RH David Cammeron elabora listagem de honrarias para amigos, aliados e… Remainers. Destinadas a premiar feito ou serviço mor. as reações de insatisfação variam no tom e no grau, não no sentido. Uns recordam ter o autor distinguido o seu cabeleireiro com notável MBE (Member of the British Empire) já em 2014, enquanto outros comparam o gesto atual com o cash for honours’ scandal que prende RH Tony Blair a censura de trocar peerages por apoios que salvam o Labour Party da bancarrota em 2006. Seja como seja, o dignificado rol declara a grandeza pública de privadíssimo thank you a pessoas que o ido PM quer inscritas na restrita elite de cavaleiros e damas radicada na ordem de cavalaria criada pelo King Edward III em 1348 ― em cujo livro fundacional de Bruges surgem os brasões de João I de Portugal e dos Algarves. A seleção de Cam tropeça no eixo gregário das insígnias. Exemplo dos novos virtuosos? Ms Isabel Spearman, conhecida como "Samantha Cameron’s Girl Friday" por organizar as roupas e o calendário social de Mrs Cameron, bem como Mrs Thea Rogers, a special adviser do ex Chancellor George Osborne a quem são creditados moderno penteado e sã dieta do outrora residente no No. 11. O apreço pela domesticidade escolta a estima por quantos ainda andaram com o honorável Dave na desafortunada campanha euroreferendária. Aqui aparecem Mr Ian Taylor e Mr Andrew Cook (que pede excusa), duo com doações milionárias a Tories e ao Stronger In, a par do trio de estrategas do Project Fear — Mr Will Straw, Mr Dan Korski e o mastermind RH G Osborne. Afinal. esta é linhagem de meritocratas que tem por divisa o eduardino Honi soit qui mal y pense.

 


Também o turismo político que regularmente disputa o centro histórico de London traz consigo coisas de pasmar. A última tirada digna de nota sai de protesto contra o racismo e o fascismo, no segmento anti escravatura. Depois da maré contra as estátuas dos arquitetos do império, guilty of colonialism, avança vaga dos justiceiros históricos. O pregão honra o melhor costume de piratas e flibusteiros, porquanto algures coteja com engenhoso mapa do tesouro.

Os ativistas sustentam com estridência que o reino deve triliões de libras a quantas terras demandou e aos descendentes de quantos nos séculos por lá adquire, trafica e escraviza. Uma destas profissionais de cartazes marchados pelas ruas explica caso particular: o justo face ao passado do comércio humano de há 500, 400 ou 300 anos é agora pagar-lhe cheque por slavery post traumatic disorder. Aprecio a inventiva. Cá por casa, sugerem-se as ricas embaixadas em volta para envio de merecidas faturas. As invasões bárbaras são campo fértil. Dos vikings aos romanos e teutónicos passa-se para saxões e a cada investida equivale reparação com vários zeros na coluna do haver. A soma final não terá sequer centúria, latitude ou senso como limite. — Ho-ho! Even Master Will puts the fallen king claiming for peculiar trade with the slave Catesby in Richard The Third: A horse, a horse! My kingdom for a horse! | Withdraw, my lord; I'll help you to a horse. | I have set my life upon a cast, / And I will stand the hazard of the die.

 

St James, 2nd August

Very sincerely yours,

V.