Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

 

When fish fly, 2016

 

Wow. O SNP prefere Brussels a Westminster, anuncia consultas para um segundo referendo separatista e abre concurso de ideias sobre como baixar o colossal défice nas contas de Holyrood numa eventual pertença a imaginária European Union sem o veto de Madrid. Os Remainers abandonam as marchas e centram esforços nas quentes Houses of Parliament para travar a Brexit.

Mr Bob Dylan ganha o 2016 Nobel Prize for Literature pela lírica das canções de protesto, após figurar na estante dos Cambridge Companions. Kumbuka foge do London Zoo e são horas de suspense enquanto o gorila passeia em Regent Park até o narcotizarem. — Chérie! Il n'est bois si vert qui ne s'allume. O novíssimo Project Pain ataca nos supermercados. O Secretary of State for Foreign and Commonwealth Affairs confessa nos Commons desconhecer a bandeira azulada dos 52 da Commonwealth of Nations. — Hum! Do not always expect good to happen, but do not let evil take you by surprise. O Home Affairs Committee censura o Labour ‘Corbyn’ Party por acolher “a safe space” para o antisemitismo no reino. A central de Brewers Green protesta. America assiste divertida à mais peculiar campanha da sua história política. London pede misericórdia a Moscow em nome dos inocentes em Aleppo. Forças iraquianas e aliados curdos lançam o assalto a Mosul, no que se pretende seja o começo do fim do pretenso califado do Isis. “Tutankhamun” ficciona na ITV a aventura arqueológica de Mr Howard Carter no Egypt dos 20s.

Bright but breezy days with some isolated showers at Central London.

Permitam que abra com particular declaração de interesses: Não, não sou agente sionista, nem aderi à conspiração zionazi ou pertenço à obscura elite Illuminati que governa o mundo, por aqui e além criticar as ideias de The Right Honourable Jeremy Bernard Corbyn. Até que acho o senhor nice, tão amigável quanto interessante, nomeadamente como resistente espécime de uma esquerda que vive em realidade própria e se alheia das suas objetivas raízes. Tão só, cedo estremeci ao observar o strange mindset que avançava nas alas e acaba a colonizar a liderança do Labour Party. Se politicamente o partido deserta do centrismo que lhe dá acesso ao poder, a bem da classe trabalhadora que aspira representar, socialmente converte-se em algo problemático. Agora, porém, é oficial! O Home Affairs Committee da House of Commons publica um relatório sobre "Antisemitism in the UK" e avisa o Lab que “it needs to get serious on the problem." Preto no branco, MPs de todos as cores expressam unanimemente pesadas preocupações pelo “hate speech and abuse” que circula na militância e amiúde visa os deputados hebreus. Entre as conclusões do inquérito figura que RH Jez C ignora “the distinct nature of contemporary anti-Semitism” apesar de um passado de luta contra o racismo e antes apresenta a “lack of consistent leadership” em contrariar “vile attitudes towards Jewish people.” Dada a “demonstrable incompetence” face ao fenómeno, o HAC elenca várias recomendações a fim de sanitizar a atmosfera. Já Jezza acusa o comité de preconceito e de fomento de “political controversies.”


A batalha das ideias em torno da Brexit continua também sobreaquecida. A Scotish First Minister RH Nicola Sturgeon abre nova frente de conflito e agita com segundo referendo independentista sob o pretexto do voto maioritário escocês para permanecer na European Union: 62% pró Remain em 23rd June (e 55,3% a favor do UK em September 2014). O gesto era esperado e é apenas retórico, mas é de anotar a descida de tom da líder do SNP entre a abertura e o fecho da Party Conference em Glasgow. Começando por declarar que “Scotland will become an independent country”, a senhora liga a Brexit a xenófoba austeridade para fixar ambígua mensagem que Holyrood “intends to remain at the very heart of Europe”, Visando silenciosa Prime Minister Theresa May, nas palavras de Mrs Sturgeon, "if [Wesminster] insists on taking Scotland down a path that hurts our economy, costs jobs, lowers our living standards and damages our reputation as an open, welcoming, diverse country, then be in no doubt Scotland must have the ability to choose a better future”. A voz soa forte mas o argumento surge fraco. Para political framing da causa «separados, mas com a Pound e na EU», tal qual o seu antecessor RH Alex Salmond tweeta, esperava mais, diferente e melhor.


A reação varia na altura do sobrolho, denotando pouco apetite das gentes para voltar a disputar um jogo esperando diferentes resultados com os mesmos jogadores. Mais consequente é o deflagrar das hostilidades nos supermercados. A cadeia de distribuição Tesco opõe-se à subida de preços das marmeladas e afins pela Unilever. Enquanto o Liberal Democrat Brexit Spokesmen RH Nick Clegg agita nos media que a libra fraca e a inflação alta atacarão os frigoríficos britânicos sem dó ou chocolates e queijos, a Marmite war resolve-se com discrição e regresso dos bens às prateleiras. Também divertida é a gota-a-gota do… Get Boris II Game. Na tentativa de descredibilizar o líder dos Brexiters, e com o Tory Michael ‘Knife’ Gove de regresso à cena política, vem a público a célebre coluna de jornal que o antigo Mayor of London e atual Foreign Secretary escreve dias antes da sua big decision ― então, a apoiar a ancoragem continental. O exercício serve para comparar os argumentos de RH Bojo quanto a ficar ou a sair do euroclube, avultando a desilusão face ao Cameron’s deal com os 27: "Yes, folks, the deal's a bit of a dud, but it contains the germ of something really good. I am going to muffle my disappointment and back the prime minister." O resto é History.


No meio de efémera agitação mediática e em véspera da chegada ao reino das primeiras crianças de Calais, com o estatuto formal de refugiados, o Rt Hon Alexander Boris de Pfeffel Johnson acolhe em London “talks with other western powers on how to end the wars in Syria and Yemen.” Presentes na Lancaster House está o US Secretary of State John Kerry, depois de mais uma reunião de adiadas tréguas sírias com o Russia's Foreign Minister Sergei Lavrov em Switzerland, e ainda altas delegações diplomáticas de France e Germany, do Kingdom of Saudi Arabia e dos United Arab Emirates. O encontro aborda a segurança regional no Middle East e delicadas sanções económicas a roçar a New Cold War, enquanto concerta posições para aumentar a pressão global sobre o “Assad regime and on its puppeteers in the form of the Russian Government. Also of course the Iranians, and what we can do to put pressure there.” Já hoje o Foreign Secretary reúne com o EU Foreign Affairs Council, para debater “a bit about the future architecture of Europe”, na qual “we hope to be supportive and offer helpful suggestions if we can”, e ainda a aguda crise do cerco em Aleppo, “that shames humanity frankly; the bombing of civilians, the indiscriminate slaughter of innocent women and children taking place in that City.” Sem dúvida que a retórica do Foreign Office tem ganho em coloração verbal, mas permanece por provar se ganha em eficácia com a batuta de um apreciador das clássicas Satires and Epistles de Horace.

Nas areias egípcias decorre o novo drama dos serões dominicais. A suceder à must-see “Victoria”, a ITV move-se para nova aposta certa com “Tutankhamun.” A série de quatro episódios foca a mais importante descoberta arqueológica de sempre, com o achamento, entrada e quebra do selo mítico na pirâmide do King Tut por Mr Howard Carter. A abrir encontramos o arqueólogo nascido na Kensington de 1874 ocupado nos primeiros trabalhos em Valley of The Kings, maverick and eccentric, ainda distante das “wonderfull things” com que em November 1922 resume para Lord Carnarvon o que primeiro vê na intata câmara real. Aqui começa a curse of the pharaohs, de quantos violam o espaço sagrado de Luxor. Várias misteriosas mortes carimbarão o segredo da esfinge e das suas câmaras secretas no Nile River. Nos jardins da Central Intelligence Agency (CIA) em Langley (Virginia, US) persiste hoje a busca do significado de Kryptos. Já no ecrã tudo começa em 1905. Mr Max Irons é Carter, secundado por Mr Sam Neill (Lord Carnarvon), Ms Amy Wren (Lady Evelyn Carnarvon) e Mrs Catherine Steadman (Maggie Lewis). A equipa é segura, sob direção de Mr Peter Webber e produção de Mr Simon Lewis, com talentos vindos de êxitos como Woman In Gold, Jurassic Park, Downton Abbey, Sherlock ou Game of Thrones. — Well! As Master Will puzzlingly echoes with that sapphire magic Prospero in The Tempest: — We are all made of dreams, and our life stretches from sleep before birth to sleep after death. (…) We are such stuff as dreams are made on, and our little life is rounded with a sleep.

 

 

St James, 17th October 2016

Very sincerely yours,

V.