Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

LL1.jpg

 

Lightning skies, European manners & an intriguing Monarchy, 2018

 

A vida é o primeiro dos direitos humanos, tal qual o voto popular é o alicerce das democracias. Estas duas verdades políticas contemporâneas estão em teste laboratorial, aquém e além Channel. — Chérie! Tous les chats sont gris dans la nuit.

A interrupção voluntária da gravidez por decreto de Westminster é hoje pedida para Northern Ireland, sem que os proponentes entendam imperativo perguntar aos locais se tal querem, mas sendo sensíveis ao resultado favorável do referendo sobre a matéria realizado na vizinha Ireland. O chão das regras comuns move-se também noutras paragens. Italy tem um novo Premier, Signori Carlo Cottareli, ido do IMF, cognominado como “Mr Scissors” e alheio aos resultados eleitorais. Madrid prolonga a direct rule na Catalonia ignorando o governo do Presidente eleito Señor Quim Torra.— Hmm. The unwanted manners. Lá longe, após surpreender pela banalidade na abordagem da Brexit numa conferência em Lisboa, o European Union Chief Negotiator Monsieur Michel Barnier reúne com a Scotish First Minister Nicola Sturgeon em Brussels para troca de mensagens quanto ao Remain/na EU vs a Scexit/do UK. Já Washington desmarca e remarca o Nuclear Korean Summit, em Singapore, entre os presidentes Donald J Trump e Kim Jong-un. O mestre Philip Roth e o captain Serge Dassaut partem de nós.


Retrato oficial da Royal Family. © Alexi Lubomirski. Courtesy do Kensington Palace (2018).


O caso impõe incontornável pergunta sobre o porquê de tanta curiosidade quanto ao que ocorre na Royal House of Windsor. Que o tema é popular, confirma-se ainda no número de capas de jornais e revistas com a imagem dos novos Dukes of Sussex em aberta competição com um vasto leque de parafernália de pratos, chávenas e bonés a chapéus de chuva. Todos os dias, aliás, caem na caixa de email propostas mais ou menos literárias (sejamos generosos) sobre… Harry & Meghan. Partindo do pressuposto que, tal qual o meu convite, os demais igualmente se perderam sem selo, estamos a falar do casório de dois desconhecidos. Porquê, pois, a euforia global? A interrogação associa-se ao mistério do amor do British People pela Monarchy, esse regime superficialmente apontado como de power & privilege mas nada senão a transmissão hereditária da autoridade para quem é desde tenra idade formado para simbolicamente personalizar uma comunidade cultural. Desde a coroação de Elizabeth II, em 1953, que a aprovação popular roda em torno dos +80%. Das explicações que ouvi e li acerca do apego à instituição real, nas quatro estações, partilho duas. Uma pertence a saudoso mestre da Oxford University, o professor David B Goldey: “The Queen has wanted manners.” A outra é escrita pelo jornalista Mr Walter Bagehot numa série de nove artigos publicados na Fortnightly Review e em 1867 compilados nesse clássico cá classificado como “wise chat” que é The English Constitution: “The best reason why monarchy is a strong government is, that it is an intelligible government. […] To state the matter shortly, royalty is a government in which the attention of the nation is concentrated on one person doing interesting actions. [,,,] The mystic reverence, the religious allegiance, which are essential to a true monarchy, are imaginative sentiments that no legislature can manufacture in any people. [,,,] A family on the throne is an interesting idea also. It brings down the pride of sovereignty to the level of petty life.”Thunderstorms blasting the British skies, inside warm but brezzy days at London. O fenónemo celestial destas noites é absolutamente espetacular, com o Shard a servir de pára raios no icónico horizonte urbano. Enquanto os alvores elétricos alumiam a suave tranquilidade noturna, o Royal Tourism acelera em volta no bulício diurno polvilhado de leves chuviscadas. Buckingham Palace atrai os olhares estrangeiros. O Parliament está em recess até 4th June e Westminster Square apresenta-se relativamente despovoada da fauna local. A Royal Familý renova-se na 2018 Spring e disponibiliza simpático retrato oficial com quatro gerações, abrindo a tela a discreta mas impactante Mrs Doria Ragland – a mãe da novel Duchess of Sussex. O casamento do Prince Harry of Wales e Meghan Markle parece ter similares efeitos a uma centelha atmosférica. Os números falam por si. Informa o Daily Telegraph que, só entre visitantes do reino vindos do país da noiva, o setor espera um aumento de 15% e um total de receitas da ordem dos £3,4bn. O interesse dos norte americanos pelo ancestral country é conhecido, mensurável no mega sucesso das séries como Downton Abbey ou The Crown, tendo agora ficado espelhado na atenção com que seguem a cerimónia matrimonial de St George Chappel. Se mais de 2 mil milhões de pessoas à volta do globo assistem à transmissão televisiva em direto de Windsor, a audiência nos USA cifra-se em mais de 30 milhões e quase duplica os 18 milhões que assistem nas ilhas. Semelhante auditório empalidece tudo o mais que circula pelas pantalhas, deixando a milhas acontecimentos desportivos e espetáculos mundiais como os Oscars de Holywood ou mesmo o anterior enlace do Prince William of Cambridge e Catherine Elizabeth Middleton.

Revermo-nos ou não em quem nos representa nos vários níveis de governo não é um sentimento despiciendo, antes pelo contrário, num tempo fluído onde prolifera a desconfiança institucional.

Se dentro de portas abundam dúvidas relativas ao efetivo respeito pela vontade popular expressa através do pacífico voto, quando volta a redobrar a larga bolsa de moedas para impor segundo euroreferendo, fora das costas chama-se Galileo a mimosa prova de existirem poderosas forças que suspeitam de uma estável Europe of peoples and nations, of trade and cooperation. O afastamento do UK post-Brexit dos fundos e projetos da ESA, a European Space Agency sedeada em Prague (Czech Republic), é ato que a lógica dificilmente poderia manufaturar, mas confirma-se que Brussels quer barrar a participação britânica no £10-billion satelite navigation system por… razões de segurança. Cabe perguntar ao MI5&co: A segurança de quem?! — Bada bing. Remember what says Master Will in Timon of Athens, about the fortunes of that generous Lord surrounded by forged companionship: — “Draw nearer, honest Flaminius. Thy lord's a bountiful gentleman: but thou art wise; and thou knowest well enough, although thou comest to me, that this is no time to lend money, especially upon bare friendship, without security. Here's three solidares for thee: good boy, wink at me, and say thou sawest me not. Fare thee well.”

 

St James, 28th May 2018

Very sincerely yours,

V.

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.