LUIS CERNUDA (II)
Considero que un poema va más allá de la literatura y se extiende a la experiencia vital del poeta, en la voz interior.
El poeta es un hombre ansioso de eternidad, y la poesía salva de la muerte:
Ya no podré decirte cuánto llevo luchando para que mi palabra no se muera silenciosa conmigo…
(extrato de uma entrevista a Luis Cernuda)
No seu esforço de depuração, Cernuda abandona a rima e evita o que chamou de linguagem pomposa, procurando um tom mais coloquial e permanecendo sempre constante ao seu único e sagrado desejo: a poesia.
José Bento alerta-nos que sempre Cernuda quis permanecer para lá de tudo o que constituiu a sua vida e talvez por aí também possamos chegar ao seu iluminado poema A un poeta futuro.
E continua a sua entrevista da qual só temos alguns rascunhos:
Por un lado, sentía que debía apoyarme en los poetas y lectores del futuro pues no me sentía comprendido por mis colegas contemporáneos. Lo expreso ya en el primer verso:
“No conozco a los hombres”. Considero que la gente está deshumanizada, con ese ocio atareado, esa prisa errante.
E ouso no meu postal para ti:
Se eu não souber Luis Cernuda, como dominei o medo, e a vida tiver sido o que quase fui, certa de que aprendi algo por que envelheça, e mesmo que as palavras muito se me desmaiem, nelas, habituei-me a crer – por te interrogar - que posso por elas ser espelho, se aguço a minha consciência num enxame de lembranças já sem mim e eu futuro: eu, sem pressa, ou não tivesse amado muitas verdades: eu, que as chamei teimosamente. Tua.
O entendimento e a compreensão para Cernuda surgem na procura de ele se entender na hora da escrita. Julgo mesmo que se sentiu sempre condenado a saber que a sua possibilidade de vencer seria através da sobrevivência da sua obra, já que para ele o poeta é como ave-fénix, renascendo a cada leitura que lhe façam de seus versos. Digo.
E assim no poema
A Um Poeta Futuro
Eu não conheço os homens. Há já anos
Que os procuro e lhes fujo, em vão.
Não os entendo? Ou entendo-os porventura,
Demasiado?
(…) Não compreendo os rios.
(…) A fonte, que é promessa, somente o mar a cumpre
(…) Não compreendo os homens. Mas algo em mim responde
Que te compreenderia, como compreendo
Os animais, as folhas e as pedras
(…) não me preocupa ser desconhecido
Quero só o meu braço sobre outro braço amigo
(…) pressinto neste humano afastamento
Quanto meus hão-de ser os homens do futuro
(…) Escuta-me e compreende (…) meus sonhos e desejos
Terão razão por fim
Por tudo o que deste Poeta tenho lido, nunca lhe notei uma estratégia vaidosa para imaginar futuros de glória. Antes o sinto a procurar um leitor que o entenda na consciência das palavras que escreve, e que saiba um dia esse leitor, ordenar a poesia através de uma nova medida, aquela que leva o poema para lá da literatura.
E numa folha da entrevista a Luis Cernuda, entrevista na qual se confessa só e em profundo desalento, ainda encontro estas palavras:
Siento que en esta etapa madura he aceptado el sufrimiento y me he dado cuenta de que siempre, a pesar de todo, hay que celebrar el mundo.
Além, Luis, além, onde os lilases dormem.
Teresa Bracinha Vieira