Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LUIS CERNUDA (II)

 

Considero que un poema va más allá de la literatura y se extiende a la experiencia vital del poeta, en la voz interior.

El poeta es un hombre ansioso de eternidad, y la poesía salva de la muerte:

Ya no podré decirte cuánto llevo luchando para que mi palabra no se muera silenciosa conmigo…

(extrato de uma entrevista a Luis Cernuda)

No seu esforço de depuração, Cernuda abandona a rima e evita o que chamou de linguagem pomposa, procurando um tom mais coloquial e permanecendo sempre constante ao seu único e sagrado desejo: a poesia.

José Bento alerta-nos que sempre Cernuda quis permanecer para lá de tudo o que constituiu a sua vida e talvez por aí também possamos chegar ao seu iluminado poema A un poeta futuro.


E continua a sua entrevista da qual só temos alguns rascunhos:

Por un lado, sentía que debía apoyarme en los poetas y lectores del futuro pues no me sentía comprendido por mis colegas contemporáneos. Lo expreso ya en el primer verso:

“No conozco a los hombres”. Considero que la gente está deshumanizada, con ese ocio atareado, esa prisa errante.


E ouso no meu postal para ti:

Se eu não souber Luis Cernuda, como dominei o medo, e a vida tiver sido o que quase fui, certa de que aprendi algo por que envelheça, e mesmo que as palavras muito se me desmaiem, nelas, habituei-me a crer – por te interrogar - que posso por elas ser espelho, se aguço a minha consciência num enxame de lembranças já sem mim e eu futuro: eu, sem pressa, ou não tivesse amado muitas verdades: eu, que as chamei teimosamente. Tua.


O entendimento e a compreensão para Cernuda surgem na procura de ele se entender na hora da escrita. Julgo mesmo que se sentiu sempre condenado a saber que a sua possibilidade de vencer seria através da sobrevivência da sua obra, já que para ele o poeta é como ave-fénix, renascendo a cada leitura que lhe façam de seus versos. Digo.


E assim no poema

 

A Um Poeta Futuro

 

Eu não conheço os homens. Há já anos

Que os procuro e lhes fujo, em vão.

Não os entendo? Ou entendo-os porventura,

Demasiado?

(…) Não compreendo os rios.

(…) A fonte, que é promessa, somente o mar a cumpre

(…) Não compreendo os homens. Mas algo em mim responde

Que te compreenderia, como compreendo

Os animais, as folhas e as pedras

(…) não me preocupa ser desconhecido

Quero só o meu braço sobre outro braço amigo

(…) pressinto neste humano afastamento

Quanto meus hão-de ser os homens do futuro

(…) Escuta-me e compreende (…) meus sonhos e desejos

Terão razão por fim

 

Por tudo o que deste Poeta tenho lido, nunca lhe notei uma estratégia vaidosa para imaginar futuros de glória. Antes o sinto a procurar um leitor que o entenda na consciência das palavras que escreve, e que saiba um dia esse leitor, ordenar a poesia através de uma nova medida, aquela que leva o poema para lá da literatura.

 

E numa folha da entrevista a Luis Cernuda, entrevista na qual se confessa só e em profundo desalento, ainda encontro estas palavras:

 

Siento que en esta etapa madura he aceptado el sufrimiento y me he dado cuenta de que siempre, a pesar de todo, hay que celebrar el mundo.

Além, Luis, além, onde os lilases dormem.

 

Teresa Bracinha Vieira