LUÍS DE CAMÕES: A QUEM SEMPRE NOS CONFIAMOS
Lindo e subtil trançado, que ficaste
em penhor do remédio que mereço,
se só contigo, vendo-te endoideço,
que fora cos cabelos que apertaste?
Aquelas tranças de ouro que ligaste,
que os raios do sol têm em pouco preço,
não sei se, ou pera engano que peço,
ou pera me atar, as desataste.
Lindo trançado, em minhas mãos te vejo,
e por satisfação de minhas dores,
como quem não tem outra, hei-de tomar-te.
E, se não for contente meu desejo,
dir-lhe-ei que, nesta regra dos amores,
pelo todo também se toma a parte.
A ideia-mater do soneto baseia-se no conceito final: por o todo também se toma a parte. A parte do todo é um lindo trançado (fita para apertar tranças) com que o poeta traça amoroso monólogo.
Sonetos Luís De Camões, prefácio, seleção, notas e bibliografia de João de Almeida Lucas, Vice-Reitor do Liceu de D. João de Castro – Livraria Clássica Editora A.M. Teixeira & C.A (FILHOS), Lda.
Teresa Bracinha Vieira