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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Mario Benedetti

 

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Mario Orlando Hamlet Hardy Brenno Benedetti, escritor, ensaísta e poeta uruguaio, tem os seus livros traduzidos em mais de 20 línguas e é considerado um autor de primeiro plano da literatura latino-americana contemporânea. Faleceu aos 88 anos, no dia 17 de Maio de 2009 em Montevideu, depois de um intenso sofrimento pela morte de sua mulher por quem tanto se apaixonara, por quem sempre viveu e escreveu, por quem sempre sentiu a exclusividade da vida fazer sentido. Luz López ,sua mulher faleceu em 2006 vítima de Alzheimer e Mario sentiu-se ir morrendo com ela e escreve o que para ele significava a vida inigualável de ambos, já que até para ambos a intimidade era muito e apenas o sonharem e o lutarem juntos, e este apenas, tinha o tudo numa táctica e numa estratégia de alcançarem o entender dos sentires que nutriam um pelo outro.

 

Táctica y Estrategia

Mi táctica es mirarte 
aprender como sos 
quererte como sos 

Mi táctica es hablarte 
y escucharte 
construir con palabras 
un puente indestructible 

Mi táctica es quedarme 
en tu recuerdo 
no sé cómo ni sé 
con qué pretexto 
pero quedarme en vos 

Mi táctica es ser franco 
y saber que sos franca 
y que no nos vendamos 
simulacros 
para que entre los dos 
no haya telón ni abismos 

Mi estrategia es 
en cambio 
más profunda y más 
simple 

Mi estrategia es 
que un día cualquiera 
no sé cómo ni sé 
con qué pretexto 
por fin me necesites.

 

De Mario Benedetti li apenas os contos “ Despistes y franquezas” de 1989 e de 2003 “El porvenir de mi passado”, dos quais muito gostei, bem como os ensaios “La realidad y la Palabra” e um outro ensaio muito particular de análise sofrida e perplexa sobre a realidade, chamado “El ejercicio del critério” (1995).

É de Mario Benedetti a frase “yo no sé si Dios existe, sé que no le va a molestar mi duda”(…) e acrescenta “Eu não sei se sou uma pessoa triste com vocação pra ser alegre, ou vice e versa, ou do avesso. O que sei é que, sim, há sempre alguma tristeza nos meus momentos mais felizes, da mesma forma que há sempre um pouco de alegria nos meus piores dias.”

Muitíssimo galardoado não obstante ter sempre atravessado períodos financeiros muito difíceis, e defendendo sempre que os fracos realmente nunca se rendem, Mario viu na escrita a sua forma de expressar a vida, até nos Haikais a que se dedicou, tal como Borges. Creio que no trabalho dos Haikai, Mario Benedetti inclinou-se a um modelo mais livre embora não largasse a métrica tinham os seus haikais muito de um carácter existencialista inclinado a um modelo mais livre quanto ao tema.


cada crepúsculo
es tan solo um ensayo
del sueño eterno


el caracol
es el especialista
de la paciência


los personajes
se evaden de mis libros
y me interrogan

la más cercana
de todas las fronteras
es con mi prójimo

 

Honoris causa pelas universidades de Alicante e Valladolid; Prêmio Rainha Sofia de Poesia (1999); Prêmio Ibero-Americano José Martí; e o 19º Prêmio Internacional Menéndez Pelayo, enfim, constitui para mim uma honra aqui recordar Mario Benedetti.

 

Teresa Bracinha Vieira
2016