MEDITANDO E PENSANDO PORTUGAL
20. O ENIGMA IBÉRICO
IMPRESSÕES DE UM BRASILEIRO EM PORTUGAL (III)
Apesar de Portugal ser pobre em recursos naturais, é verdade que prevalece entre nós uma mentalidade de ricos, para o que contribuiu o antigo Império, como sucedeu, em graus diferentes, com outras ex-potências coloniais europeias.
À decadência geral da superioridade europeia, agravada pelas crises recentes, generaliza-se a ideia de que o máximo que podemos atingir é manter intocável o nosso modo de vida, defendendo-se a ausência da possibilidade de o melhorar consideravelmente (teoria conservacionista).
É o que aparenta suceder em Portugal e na Europa, mas não no mundo em geral. A este conservacionismo essencialmente europeu, vem-se contrapondo que a ideia de mudança e de conquista do futuro está viva noutras paragens, na China, Índia, Ásia em geral. O que neste momento os europeus tentam conservar, é o que outros tentam alcançar, entre eles o Brasil. Este elemento terá de ser introduzido como um elemento novo a ter presente na análise crítica que aqui fazemos a Wilson Solon, que este não consciencializou em relação à “pátria-mãe”[1].
Também é observável que há em Portugal um discurso catastrofista em dizer mal de nós. Televisões e imprensa em geral deliciam-se em fazer o culto da autovitimização, do pessimismo e do miserabilismo, de que estamos em primeiro lugar em tudo o que é mau e em último em tudo o que é bom, existindo sempre algo a lastimar, sem pensar no mundo que nos rodeia, onde há quem esteja melhor, mas muitos, demasiados, pior. Que podíamos e devíamos estar melhor, ter mais ambição e esperança é verdade, mas daí à eterna insatisfação e lamúria, portadora de um complexo de inferioridade em relação ao estrangeiro que vive melhor, não se justifica.
Se os portugueses em geral são afáveis, há-os acres, mormente algumas elites, que se envergonham do país, aproveitando qualquer oportunidade para o denegrir, gerando uma psicologia derrotista, onde não nos revemos. Portugal renovar-se-á por uma atitude psicológica positiva, reprodutora dos momentos criativos da sua história, abrindo-se e confrontando-se com a multiplicidade, desmentindo a atual ausência do espírito de missão e apelando ao que de melhor nos disseminou pelo mundo.
Já não aceitamos que seja pelo facto de terem um nível de vida superior, que países similares ou mais exíguos tenham mais autoestima e sejam externamente mais conhecidos e considerados, o que peca por uma visão redutora e eurocêntrica, excluindo a maioria dos outros, sendo facilmente observável que Portugal, pela sua história e universalidade, supera muitos deles, para já não falarmos da ficção que é, por exemplo, a Bélgica como nação (de um nível de vida superior ao nosso).
À alegada indiferença de brasileiros, há-os reconhecidos, por paixão uma vez identificadas afinidades e afetos mútuos (como Wilson), sendo motivo de orgulho que um país continental tenha surgido da força, calculismo e diplomacia de um país tido pelo Brasil como minúsculo, a “terrinha”.
A que acresce, de momento, uma vinda elevada de brasileiros para Portugal, incluindo milionários e classe alta, fugindo da crise e da insegurança, tendo o nosso país como interessante, atrativo, pacífico e na moda, com a vantagem de falar um idioma comum.
04.10.2019
Joaquim Miguel de Morgado Patrício
[1] Como ele próprio lhe chama na p. 319.