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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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MEDITANDO E PENSANDO PORTUGAL

 

24. OS TUDORS E UMA FALACIOSA HISTÓRIA DE PORTUGAL


Surpreende a desfaçatez com que a série televisiva britânica The Tudors, sobre a vida de  Henrique VIII, de Inglaterra, testemunha a vida na corte portuguesa da época, representando-a falaciosamente como um abrigo bafiento e exótico de atrasados mentais.  


Pejada de inverdades, tem um episódio em que o rei D. Manuel I é representado como um velho corcunda, mal cheiroso e desdentado,  bobo e de olhar libidinoso, numa corte de antiguidades e velharias alienígenas e excêntricas, entre homens pouco dignos e sujos, anciãs vestidas de negro e clérigos de ar inquisitorial, numa sucessão de cerimónias do casamento real com uma fictícia princesa Margarida, irmã de Henrique VIII, nunca casada com qualquer monarca luso, cuja fantasiosa consumação conjugal é de puro mau gosto.         


Como se não bastasse tal falácia, eis que a dita princesa, frustradas as suas expetativas conjugais e reais, agudizadas pela diferença de idades, assassina o rei, asfixiando-o em sigilo com uma almofada, no meio de um grande plano de uns grosseiros e sujíssimos pés.       


Impõe a verdade que se diga que D. Manuel I embora tenha casado três vezes, fê-lo apenas com duas filhas dos reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela, Isabel e Maria, e com D. Leonor, irmã de Carlos V.       


E não foi assassinado por asfixia, mas na sequência do flagelo da peste e de outras epidemias que assolavam o reino.   


Qual a justificação para esta falsificação da história, numa época de ouro da corte lisboeta, do rei venturoso e seu império, demonstrando a importância de Portugal,   mesmo se expectável alguma fantasiosa ficção da narrativa?   


É inadmissível que se deturpe a História, falseando factos e pondo em causa a nossa reputação nacional, não nos defendendo, quer por omissão coletiva e institucional a uma versão indecorosa do nosso passado histórico, quer por omissão de investimento no audiovisual, sob o subterfúgio da falta de dinheiro para ninharias e futilidades, deixando o testemunho da nossa história ao sabor da altivez e sobranceria dos outros.


Continuamos sem filmes, séries documentais, ficcionais e dramas sobre figuras e eventos da nossa história. 


Assim se conclui, de novo, ser uma prioridade estratégica apoiar e investir na ficção do audiovisual, pois um país sem imagens, na era atual, é “um país que não existe”.


04.12.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício 

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