MEMORIAL À VIDA
O memorial da autoria do Arquiteto Rui Sanches na Ribeira das Naus em Lisboa que homenageia Maria José Nogueira Pinto (1952-2011) é um símbolo que assinala, de um modo inteligente e sensível, o exemplo de quem, ao longo da sua vida, fez da ação e do cuidado dos outros apanágio da compreensão das pessoas e do mundo. Bem-aventurados os que não aceitam a indiferença. O lugar é significativo – perante o Tejo, próximo de onde partiam e chegavam as caravelas e as naus, aqui foi o Paço da Ribeira, a Casa da Índia, onde nos dias gloriosos se sente a perenidade da história, como lembrou Jaime Nogueira Pinto. Há uma janela aberta sobre o magnífico estuário, e uma casa incompleta, a lembrar a obra persistente de quem sonhou com mil coisas, com a reanimação da Baixa-Chiado, com a vida de Lisboa e fez da habitação social uma responsabilidade sempre inacabada. Tendo conhecido a Zezinha desde que entrámos na Faculdade de Direito, sempre encontrei nela o mesmo empenhamento, o gosto de intervir, de fazer, de ajudar, de cuidar. Durante os últimos anos partilhámos algumas ideias, preocupações e projetos. Falámos de tudo, discutimos as questões mais diversas – e o tempo levou-me a admirar-lhe sempre a pertinácia, a inteligência e o rigor. Perante o memorial da autoria de Rui Sanches pude lembrar mais uma vez a Maria José e o seu exemplo. O lugar é ideal, tenho a certeza de que concordaria com a escolha, para lembrar a todos que nunca estamos dispensados de agir e de estar atentos! Esse o grande apelo daquelas paredes de um mundo em construção.
Guilherme d'Oliveira Martins