MEMÓRIAS DE EMÍLIO RUI VILAR (I)
Assinala-se, neste artigo, o recente livro de Emílio Rui Vilar intitulado abrangentemente e significativamente “Varia II – 2012-2019 – Memoreae”, assim mesmo: e desde já refere que este título, no seu envolvimento clássico e de expressão latina, sintetiza e consubstancia a vasta abordagem de memórias, com uma temática que tem, além de tudo o mais, a própria variada atividade cultural/curricular do autor e a relevância que assume, pela intervenção, insista-se como autor/criador, e pelas funções desempenhadas como escritor e como dirigente de tantas entidades, todas relevantes e algumas delas primordiais na cultura e na intervenção da sociedade portuguesa.
E desde já se insista novamente que se trata então de um segundo volume de Memórias, englobando por intervenção diretiva, por colaboração destacada ou por acompanhamento também direto, todo um longo e decisivo período de atividade cultural a nível nacional, mas não só, a internacionalização é fator relevante, na análise direta/curricular, mas também na seletividade em si mesma dos temas.
E desse modo, justifica-se esta sucessiva referência por artigos diversos e muito variados no temário: ou não estivéssemos a analisar, como já se disse, um segundo volume da atividade curricular que cobre neste livro o período, já referido, de 2012-2019, mas que vem, no plano profissional direto, de 1958.
Nesse ano, recorda-se no livro, Emílio Rui Vilar, estudante na Universidade de Coimbra, surge como fundador do Círculo de Artes Plásticas da Academia de Coimbra (CITAC) e em 1960 como presidente do CITAC – Centro de Estudos de Teatro da Academia de Coimbra. Já tenho tido ocasião de referir a relevância que, durante anos, esta estrutura cultural/estudantil alcançou e manteve na cultura teatral portuguesa.
O livro traz-nos pois numerosas citações e transcrições de textos acerca do CITAC: e delas podemos expandir a análise para a arte e o espetáculo teatral em si mesmo, na abrangência complexa que o estruturam: texto, representação, comunicação com o público e sentimento/ideologia inerentes, o que abrange todos os estilos, conteúdos e formas da arte teatral.
Assim, em 1961, Emílio Rui Vilar define o palco como “esse pedaço de chão iluminado, cujas origens se perdem na penumbra do tempo, nascido talvez duma clareira de floresta quando o homem procurava, em passos de magia animista, os seus primeiros deuses e as suas primeiras verdades”. (cit. pág. 468).
Ora, independentemente do estilo subjacente, o que ressalta de facto é o origem histórica e cultural desta expressão das artes do espetáculo, desde logo envolvendo o respetivo conteúdo humanístico.
E a conciliação com a própria expressão de espetáculo, e não apenas de situação literária, surge logo a seguir: “E drama é, no mais puro significado da palavra, ação, aquilo que se passa na cena. Do palco e drama é feita a arte do teatro”.
E daqui se conclui então, entre outras características, “a elementar obrigação que nasce para o teatro de ser instrumento de educação e de a circunstancialidade em que ele vive não só o permitir, como fomentar de forma saudável”...
E o livro prossegue com mais referências ao teatro em geral, e ao CITAC em particular.
E quanto a esses, poderemos em mais artigos, novamente evocar esta iniciativa nas suas dimensões específicas sobretudo de teatro de expressão didática e de ligação universitária. E descentralizadora.
DUARTE IVO CRUZ