O Conde de Vimioso
O Conde de Vimioso, defendendo a doutrina platónica e tradicional do amor, afirma:
Quem d’amores tem o cume
que vyve vyda acabada
este nam deseja nada:
nam se julga por costume
cousa desacostumada.
Quem ousa de desejar,
cuyda o contentamento,
se o cuydo, logo o sendo,
e em meu mal nam pod’ estar
prazer, nem por pensamento.
Por outro lado, Aires de Teles, baseando-se na imperfeição do ser humano opina:
Desejar e bem querer
sam, senhora, tam parçeyro,
c’os amores verdadeyros
sem ambos nam podem ser,
porqu’a causa he querer bem,
o desejar o afeyto.
Amores qu’este nam tem,
nam me negara ninguém,
que nam tem o ser perfeyto.
Em Camões encontramos as duas teses na sua lírica o que tem dificultado o trabalho de exegese da faceta amorosa de Luís Vaz de Camões, é o «contentamento descontente», e porque « transforma-se o amador na coisa amada, por virtude do muito imaginar» e sempre
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer.
É um querer mais que bem-querer;
é solitário andar por entre a gente;
é um não contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade,
é servir quem vence o vencedor
é ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode o seu favor
nos mortais corações conformidade,
sendo a si tão contrário o mesmo Amor?
M. Teresa Bracinha Vieira
Julho 14
Obs: Uma tese apresentada também nos sugere que o grande Amor de Camões teria sido a Infanta D. Maria. A ela se referia o poeta com o seu « sonho suave e soberano» num sentido de realidade , vincadamente renascentista. Tempos de verdades puras e de raríssimas firmezas, de traços platónicos embebidos de insatisfação perante os males que constantemente assediavam Luis Vaz: fusão de sentimentos de cultura clássica e nacional e vibrante de humanismo.