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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O Conde de Vimioso

 

O Conde de Vimioso, defendendo a doutrina platónica e tradicional do amor, afirma:

 

Quem d’amores tem o cume

que vyve vyda acabada

este nam deseja nada:

nam se julga por costume

cousa desacostumada.

Quem ousa de desejar,

cuyda o contentamento,

se o cuydo, logo o sendo,

e em meu mal nam pod’ estar

prazer, nem por pensamento.

 

Por outro lado, Aires de Teles, baseando-se na imperfeição do ser humano opina:

 

Desejar e bem querer

sam, senhora, tam parçeyro,

c’os amores verdadeyros

sem ambos nam podem ser,

porqu’a causa he querer bem,

o desejar o afeyto.

Amores qu’este nam tem,

nam me negara ninguém,

que nam tem o ser perfeyto.

 

 

Em Camões encontramos as duas teses na sua lírica o que tem dificultado o trabalho de exegese da faceta amorosa de Luís Vaz de Camões, é o «contentamento descontente»,  e porque « transforma-se o amador na coisa amada, por virtude do muito imaginar» e sempre

 

Amor é fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói e não se sente;

é um contentamento descontente;

é dor que desatina sem doer.

 

É um querer mais que bem-querer;

é solitário andar por entre a gente;

é um não contentar-se de contente;

é cuidar que se ganha em se perder.

 

É um estar-se preso por vontade,

é servir quem vence o vencedor

é ter com quem nos mata lealdade.

 

Mas como causar pode o seu favor

nos mortais corações conformidade,

sendo a si tão contrário o mesmo Amor?

 

 

M. Teresa Bracinha Vieira

Julho 14

 

Obs:  Uma tese apresentada também nos sugere que o grande Amor  de Camões teria sido a Infanta D. Maria. A ela se referia o poeta com o seu « sonho suave e soberano» num sentido de realidade , vincadamente renascentista. Tempos de verdades puras e de raríssimas firmezas, de traços platónicos embebidos de insatisfação perante os males que constantemente assediavam Luis Vaz: fusão de sentimentos de cultura clássica e nacional e vibrante de humanismo.