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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O DECLÍNIO DOS IMPÉRIOS

  


Mario Draghi, perante o Conselho de Estado português, recusou que o aumento da despesa no setor da Defesa dos países europeus se faça à custa da retirada de fundos ao Estado Social. Aliás, quem tenha lido com atenção o relatório que subscreveu certamente chegou a essa conclusão sem grande esforço. Trata-se, sim, de dar atenção aos setores cruciais que contribuam para o aumento da produtividade, como o tecnológico e o energético, bem como para a segurança europeia nos setores da defesa e do espaço. Para tanto, importa mobilizar capitais públicos e privados, com um planeamento estratégico atuante, para contrariar o declínio. Não iludamos os problemas, pois precisamos de iniciativa política, de investimentos maciços em investigação e desenvolvimento e uma aposta nas infraestruturas transeuropeias, o que exige um esforço corajoso, compreendendo a ligação entre coesão social e progresso económico. A defesa nacional obriga a considerar a cobertura dos riscos sociais, a salvaguarda da educação, da cultura e da ciência e a política externa e de segurança. Quem o esquecer comete um erro fatal de consequências dramáticas. A capitulação de Munique em 1938 esqueceu a sociedade o que teve de ser retificado sob pena da derrota da Europa. Num tempo pleno de incertezas, vivemos hoje a tentação das conclusões fáceis e imediatistas, confundindo o essencial e o acessório. Há um perigoso mimetismo, ditado pelos ventos atlânticos e das estepes e por uma paradoxal cegueira relativamente à complexidade, em benefício de formulações fáceis e bombásticas. O regresso do protecionismo e da lógica do “espaço vital” contém em si o perigo inexorável de fragmentação, da condenação do multilateralismo e da imposição da lei da selva, com resultados semelhantes aos do final do Império Romano. E não se esqueça o “18 Brumário de Luís Bonaparte” em que se demonstrou que a História se repete primeiro como tragédia e depois como farsa. Não se esqueça que os Estados Unidos sempre se afirmaram como uma potência normativa, apta a agir com respeito do primado da lei e segundo critérios de mediação internacional. A recusa dessa vocação pode significar paradoxalmente o inexorável declínio. E o mesmo se diga da Rússia, que ao isolar-se faz exatamente o contrário do que fez a czarina Catarina II, que afirmou a sua influência na procura do respeito das outras potências. A tragédia e a farsa são riscos nos dois casos, pela incapacidade de agir internacionalmente com autoridade moral e capacidade de dissuasão. Como temos visto, a lógica dos tigres de papel ocupa o lugar das capacidades efetivas. É verdade que o eixo Pequim-Moscovo-Teerão parece mais atuante, pelo que os Estados Unidos não devem alienar a vantagem estratégica antiga de poder contar com aliados potenciais na Europa, Ásia e Medio-Oriente. Mas tal pode desvanecer-se pela ilusão da autossuficiência. A Ucrânia, o agravamento da situação de Israel e a incerteza na Ásia Oriental abrem o risco de perigosas guerras simultâneas, pelo que não basta o discurso da imposição de mais despesas militares, quando a ideia de solidariedade estratégica é contrariada pelo isolamento. Talvez não seja fatal o declínio norte-americano, mas uma guerra global gerada por aprendizes de feiticeiros pode tornar-se provável, com temíveis resultados.    


GOM 

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