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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O DRAMARTURGO JORGE DE SENA NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO

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Aqui se invoca a criação e produção dramática de Jorge de Sena, no centenário do seu nascimento, referido numa vasta série de artigo de diversos estudiosos, publicados no jornal Público. E desde já se recorda que Sena, nascido em 1917, faleceu em 1978, decorridos então exatos 40 anos.

Foi, pois, uma morte prematura. Mas, prematura também foi a primeira criação dramatúrgica, chamemos-lhe assim, de Sena, a peça, “Luto”, escrita em 1938 numa linha realista-naturalista, tal como tivemos já ensejo de referir.

Assinale-se que Sena tinha então 18 anos e que na época o teatro português nem sempre marcava pela inovação: daí que tenhamos já sublinhado nesta peça uma “toada realista – naturalista” que de facto destaca-se no conjunto da obra dramática do autor.

Eugénia Vasques, num livro dedicado a Jorge de Sena, assinala uma série de projetos teatrais não concretizados ou pelo menos não publicados. Cita alguns títulos: “Luto”, “Origem”, “O Arcanjo e as Abóboras”, “Bazajeto e a Revolução”, “A Demolição”... em qualquer caso, assinala-se o  notável estudo dedicado ao autor e à sua vasta obra. (Eugénia Vasques, “Jorge de Sena: Uma ideia de Teatro”, ed. Babel 2015).

No que me diz respeito, dediquei ao teatro de Jorge de Sena uma referência desenvolvida na “História do Teatro Português” publicada em 2001 (ed Verbo): na altura própria retomarei a análise então efetuada. Mas entretanto, vejamos outras referencias e análises.     

Assim, como adiante se desenvolve, Luiz Francisco Rebello destaca certa influência do surrealismo subjacente à dramaturgia de Jorge de Sena. De certo modo, a linguagem implica como que uma modernização da expressão dramática, dentro dos condicionantes do próprio temário, por um lado, e da estética coerente com a expressão literária do autor, aqui obviamente condicionada pelo potencial cénico subjacente.

Nesse sentido, Luiz Francisco Rebello em “O Jogo dos Homens” (ed. Ática 1971) refere concretamente que o teatro de Jorge de Sena assume expressões que, citamos, “direta ou indiretamente se reconduzem à estética e à ética do surrealismo”. E mais acrescenta, agora em “O Teatro Simbolista e Modernista” (ed. ICP 1979), que esse grupo efetivou transição/modernização, pelo espetáculo, de obras e autores que, na potencialidade dos textos e na efetivação das encenações, marcaram uma à época bem significativa renovação do teatro em Portugal.

Não por acaso, o conjunto do teatro de Sena, se em certos títulos efetivamente reflete estéticas e expressões dramatúrgicas marcadas por certas opções, no seu conjunto e na coerência expressa ou implícita, assume uma constante de modernidade e inovação que marca dessa forma o teatro português.

Refira-se o conjunto dessa dramaturgia, tal como dela há noticia:

“Luto” (1938), “O Indesejado-António Rei” (1945), “Amparo de Mãe” (1948), “Ulisseia Adúltera” (1948), “A Morte do Papa” (1964), “O Império do Oriente” (1964), “O Banquete de Dionísios” (1969), “Epimeteu ou o Homem que Pensava Depois” (1971).

Retomaremos o tema sobretudo a partir da reanálise desta dramaturgia, que já desenvolvemos na “História do Teatro Português”.

Aí referiremos então as colaborações dramatúrgicas de Jorge de Sena na rádio, no Teatro Experimental do Porto e nos então denominados Companheiros do Pátio das Comédias.

E nesse sentido, retomaremos a análise abrangente do teatro de Jorge de Sena no ponto de vista da sua própria criação.

DUARTE IVO CRUZ