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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O MUNDO A PROCURAR TE, INCRÍVEL RUBEN A.

 

“Foi das pessoas mais originais que conheci na vida”, disse Eduardo Lourenço sobre Ruben A. “Chamou-me ao Hotel Astória, em Coimbra, e fui encontrar o meu futuro amigo, que me recebeu como um príncipe no seu quarto, fazendo a toilette como Luís XIV, diante do seu amigo provinciano que acabara de conhecer da maneira mais divertida possível”.

 

Diria que esta postura de Ruben era, de muitos modos, uma teimosa resposta à vida das trivialidades míopes e das jogadas de similitudes efémeras. Era um modo de convivência cultural, generoso e aberto à sã e criativa interpretação.

 

Escritor e ensaísta, sob o pseudónimo Ruben A., Ruben Alfredo Andresen Leitão nasceu em Lisboa em 1920. A sua infância foi vivida no Porto e partilhada com sua prima Sophia de Mello Breyner Andresen, na Quinta do Campo Alegre. Considerado um autor essencial para a literatura do século XX português, não fora ele e a sua viagem, e todos seríamos mais sós.

 

Convive com Agostinho da Silva, seu professor que admirou pela invulgar capacidade intelectual. Foi Leitor e professor no King’s College de Londres. Em Portugal foi muito publicamente criticado pelo regime de Salazar. O silêncio sobre a sua obra abateu-se num significante peso, mas edita obras memoráveis como “Caranguejo” (1954), narrativamente escrito de trás para a frente e sem numeração de página, “Cartas de D. Pedro V aos seus Contemporâneos”, “A Torre da Barbela” (prémio Ricardo Malheiros), ou a autobiografia “O Mundo à Minha Procura”. Privou com o escultor Henry Moore e o escritor T.S. Eliot, entre outros. Era admirador de Henry Miller. Foi também autor de vários verbetes no Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão.

 

Diria que no termos de viver também aquilo que fomos, levou Ruben A. a escrever no texto introdutório à sua autobiografia «O Mundo à Minha Procura I»:

 

«Voltar ao Campo Alegre foi para mim qualquer coisa de enorme na vida, mais importante do que ir à Lua, ou andar em órbita à volta da Terra», evocando assim os tempos de infância na companhia da sua prima Sophia de Mello Breyner Andresen. Este sentir de forte afeto e os detalhes da paisagem que o envolveram, irão marcar para sempre o seu imaginário na escrita.

 

Para nós em Ruben, a verdade é que tudo pode ser ao mesmo tempo tanto e tão pouco, vertido nas escolhas que fazemos, e, estas suscetíveis de uma crítica irónica, salutar, corajosa e arguta ao modo de estar do que nos rodeia, e envoltos nós num sério com sorriso, encontraremos a tão recôndita sabedoria interior e o relevo do meio em nós. Esta uma das características da palavra de Ruben A.

 

Cremos também que a ditadura do antigo regime há de ter tido uma influência no angulo de leitura da escrita de Ruben A., ao não deixar que surgisse claro, o quanto escritores como ele são, acima de tudo, um modo coletivo de pensarmos e de vivermos a liberdade. As falsas acalmias nunca promoveram ou promoverão a capacidade de resposta viva ao que naturalmente se levantou em Ruben A.

 

Nos anos 50, Óscar Lopes, júri de um concurso literário, recusara o romance “A Torre de Barbela”, que considerava um embuste, e publicou um artigo negando-lhe qualquer qualidade literária. Mais tarde reconhecera o erro. Todavia Ruben ficou acantonado e esquecido, e esta realidade carece de esclarecimento.

 

Julgamos poder afirmar que Ruben conhece a existência através do ato da escrita e da arquitetura que lhe deu através da sua vida, da sua quantidade e qualidade de energia, daquela mesma que foi capaz de tirar do subsolo da alma.

 

A pandemia alterou os planos da festa dos 100 anos de Ruben A, a 26 de Maio passado. Contudo há que estar atento à mudança de datas, já que:

 

Na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, realizar-se-á o colóquio O Incrível Ruben A., numa organização da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a participação de autores, investigadores e professores como Clara Rocha, Dália Dias, Fernando Pinto do Amaral, Gustavo Rubim, Joana Matos Frias, Joana Meirim, Pedro Mexia e Sílvia Chicó. A comissão das celebrações do centenário é constituída entre outros pelos professores António Feijó, Miguel Tamen e Sílvia Chicó, da Universidade de Lisboa, e Clara Rocha, da Universidade Nova de Lisboa. A exposição O Incrível Ruben A. - 100 anos do escritor, na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, realizar-se-á em 2021, em datas a confirmar. No próximo ano, o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, também dedicará um dia ao escritor, iniciativa em colaboração com o Centro Nacional de Cultura.


Eis algumas das iniciativas agendadas.


EIS AGORA O MUNDO A PROCURAR TE, INCRÍVEL RUBEN A.

 

Teresa Bracinha Vieira