O PÃO NÃO CAI DO CÉU
- Porque é que nós não temos terra? Nem pão? Que eu já tive alguma coisita de meu, mas hoje tudo quanto eu tinha é do conde de Ferreira. Não sei porquê, que nunca o vi pegar numa enxada… Então ele, que é tão rico, precisa agora de courelas dum pobre?
Era domingo. O vento mudara. O rebate dos sinos foi-se esmorzando. À porta da casa do tio Canha, batida do primeiro rubor do sol nascente, uma mulher, com o filho adormecido nos braços, ajoelhou e fez o sinal da cruz. Os homens, compungidos, imóveis, resolutos, esperavam ordens. Não tardou que o céu se velasse de uma neblina algodoada, que aos poucos se tornou em gélidos rolos de nuvens, sob os quais pairava, como nas terras nórdicas, uma ameaça de neve.
Hoje revisitei José Rodrigues Miguéis, o que é uma outra forma de lutar, tal como aprendi com ele, com a sua obra!
M. Teresa Bracinha Vieira
Setembro 2014