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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

O TEATRO DE MARIA VELHO DA COSTA

 

O recente falecimento, aos 81 anos, de Maria Velho da Costa (1938-2020), já foi devidamente referido pelo Centro Nacional de Cultura, tendo Guilherme d’Oliveira Martins assinalado a sua vasta obra e a colaboração que durante tantos anos prestou ao CNC. No texto então publicado, são aliás frequentes as referências não só a essas colaborações como designadamente à vasta obra criacional da autora e aos prémios e destaques que ao longo da vida lhe foram concedidos e amplamente justificados.

 

Nesse aspeto, deve salientar-se o Prémio Camões (2002) e o Prémio Vida Literária (2013). Mas independentemente destas consagrações/celebrações institucionais, o que sobretudo se destaca é a vasta e variada obra em si, e também o reconhecimento da qualidade literária e criacional ao nível das variadas expressões.

 

E reconhece-se a dimensão implícita de espetáculo da sua dramaturgia. Entre textos originais e adaptações e dramatizações, podemos agora citar designadamente uma curiosa teatralização de personagens “clássicos” da literatura portuguesa e brasileira, devidamente “cruzados”.

 

Referimo-nos à peça, “Madame”, datada de 1999, e resultante do cruzamento dramático de duas personagens consagradas das literaturas em língua portuguesa. Trata-se então da Maria Eduarda de “Os Maias” de Eça e de Capitu de “Dom Casmurro” de Machado de Assis.

 

E vale a pena referir designadamente que o potencial de teatralização de “Os Maias” chegou a inspirar o próprio Eça no sentido de uma adaptação à cena que acabou por não produzir. E também podemos acrescentar que a única expressão dramatúrgica concretizada de Eça é a tradução da peça “Philidor” (1863) de Joseph Bauchardez.

 

Em qualquer caso, é interessante evocar agora as reservas que Machado de Assis formulou à criação literária de Eça de Queiroz. O que não obstou a que, por ocasião da morte de Eça, a “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro tivesse publicado, em 24 de agosto de 1900, uma evocação de Assis: “para os romancistas, é como se perdêssemos o melhor da família, o mais esbelto e o mais válido”, nada menos!...

 

Mas voltando à evocação de Maria Velho da Costa, há que salientar mais textos dramáticos que escreveu: citamos designadamente “Um Filho” e “A Vingança ou Boda Deslumbrante”. E ainda se referem sessões de textos dramáticos ou para-dramáticos.

 

Porque, no seu conjunto, a obra de Maria Velho da Costa exige uma continuidade de estudos e de pesquisa que irão sendo efetuados.

 

DUARTE IVO CRUZ