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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O TEATRO DE REVISTA EM PORTUGAL (III)

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GUERRA JUNQUEIRO, INESPERADO AUTOR DE REVISTA

Em 17 de janeiro de 1879 o Governo Civil de Lisboa proíbe a representação, no Teatro Ginásio, da “revista do ano” -  como então se dizia - “Viagem à Roda da Parvónia”, de um tal Comendador  Gil Vaz, estreada na véspera, em ambiente de escândalo. E de tal forma, que o comunicado do Governo Civil“ mand(a) a qualquer agente da policia que intime a empresa  do Teatro ginásio Dramático para que retire imediatamente de cena a revista (…) cujas representações ficam proibidas; bem como para que seja desde já contra-anunciado o espetáculo desta noite”…! Curiosamente, este desconhecido Comentador Gil Vaz ocultava uma  inesperada parceria revisteira: nada menos do que Guerra Junqueiro e  Guilherme de Azevedo: Junqueiro já  na altura era um nome referencial; Azevedo era jornalista de grande nomeada, porem de escassa expressão dramatúrgica (“Rosalino” – 1877).

E também se diga que Junqueiro pouco se dedicou ao teatro: alem da revista que aqui recordámos, colaborou noutro texto, “A Fábia” (1873), récita de finalistas da Universidade de Coimbra. E só em 1896 publicaria a versão final do poema dramático “Pátria”, critica violenta à situação histórico-politica a partir do Ultimato inglês de 11 de janeiro de 1890.  A génese deste exercício teatral foi lenta e assumiu formas e designações diversas -  “Portugal no Calvário” no próprio ano do Ultimato, “A Agonia” em 1891/2 e finalmente a versão final, “Pátria”.

Como se sabe, D. Carlos é violentamente criticado: mas, como noutro lado, escrevi, “Junqueiro reconheceria a tolerância do reu relativamente ao seu poema” (in “História do Teatro Português” pag. 234. E tal como refere Luciana Stegagno Pichio, a “Pátria identificava Portugal vilipendiado e politicamente frustrado com o doido da tradição medieval” (in “História do teatro português” pag. 310).  Por  seu lado, Álvaro Manuel Machado reconhece no poema “uma vibração elegíaca e saudosista” que é relevante em termos de literatura dramática. (in “Dicionário de Literatura  Portuguesa” pag. 254, verb. Junqueiro, A. M. Guerra).

Mas voltemos À Viagem à Roda da Parvónia” O texto assume um criticismo feroz, que ainda hoje se faz sentir, especialmente pela capacidade e potencialidade “de espetáculo”, num fase mais ou menos inicial do teatro de revista.  Para já, são pAra cima de 60 personagens, evidentemente desdobrados em termos  da representação teatral, mas que cobrem, no seu sentido critico mordaz e tantas vezes violento, um universo variadíssimo de  carateres e determinam um choque permanente de situações.

 A politica domina o texto, a critica e até a cena: não por acaso, o Quadro I do Ato I  “representa uma arcada do Terreiro do Paço. – Vários grupos conversam – De quando em quando rapazes atravessam apregoando cautelas – Vendilhões de agua fresca gabam e excelência do liquido”, nada menos! E segue uma delirante sucessão de situações, que põe em cena populares, poetas, deputados,  ministros , estátuas, deuses clássicos, as  quatro estações, candidatos, eleitores…  e mais Matusalem, Apolo, o Judeu Errante…

 Luis Francisco Rebello, NA História do teatro de Revista em Portugal,  (vol. I -1984) evoca a lista de personalidades que, a pedido dos autores, comentaram e a edição do texto: João  de Deus, Antero, Oliveira Martins, Filho de Almeida,  Ramalho Ortigão,, Pinheiro Chagas, Gervásio  Lobato,  Julio César Machado, Magalhães Lima… E cita uma cena na Camara dos Deputados, que constitui, na verdade, uma tremenda critica à vida politica da época…
O Teatro Experimental de Cascais repôs muito recentemente  a "Viagem à Roda da Parvónia". E o espetáculo mostra como o texto não perdeu oportunidade!

DUARTE IVO CRUZ