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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O TEATRO DE REVISTA EM PORTUGAL (X)

Teatro Variedades.JPG
Teatro Variedades (fachada), 1961, fot. C. Madeira [Museu Nacional do Teatro, cota: 57625].

 

BREVE NOTA SOBRE AUTORES INESPERADOS

Uma breve nota final sobre este ciclo de evocações sobre o teatro de revista em Portugal.

Como temos visto, o teatro de revista, na sua componente global texto/espetáculo, representa, desde meados do seculo XIX, uma das mais constantes expressões do teatro português: e temos salientado, ao longo desta série de referências, a qualidade de muitos textos e a afirmação de não poucos autores.

Cabe agora referir que, nesse conjunto relevante de textos e autores, há uma distinção que aqui tem sido assumida: pois ou estamos perante dramaturgos que só se dedicaram à revista, ou perante dramaturgos que, na opção por vezes subtil entre revista e opereta, completam, digamos assim, obras globais de diferente género e estilo, com “incursões” no teatro musicado.

E desde logo se diga que dramaturgos indiscutíveis na pluralidade de géneros, como designadamente Bernardo Santarenos – e o exemplo é em si mesmo relevante – não desdenharam a revista – no caso de Santareno, uma única vez, é certo, e em colaboração ou “parceria”, termo usado no género, com César de Oliveira, Rogério Bracinha e Ary dos Santos. Os primeiros não são inesperados, antes pelo contrário.
Mas é de assinalar a colaboração de Ary dos Santos, em diversas revistas, de títulos e textos alusivos à conjuntura politica: “Uma no Cravo, Outra na Ditadura”, “A Paródia”, “Ó Calinas Cala a Boca”, “Em Águas de Bacalhau”,  “Ó da Guarda”, “A Paródia”,  sendo que, na primeira, o próprio Ary declamou um poema evocativo de Allende.

Mas voltemos atrás. É que, desde pelo menos os anos 50/60, a produção de revistas trouxe sobretudo aos teatros do Parque Mayer um conjunto notável de autores e de atores que não raro preenchiam as duas funções… São numerosas as revistas escritas e interpretadas por Vasco Santana, José Viana, Henrique Santana, Eugénio Salvador, Francisco Nicholson e tantos mais até hoje.

José-Augusto França historia o Parque Mayer desde a sua inauguração em 1922, e assinala a inauguração dos Teatros Maria Vitória e Variedades, “para proveitosas carreiras de revistas, em acentuado e bem significativo gosto lisboeta de pilhéria e crítica sobremodo politica”. Evoca a inauguração do Capitólio em 1931, projeto do arquiteto Cristino da Silva e hoje em demoradas obras de recuperação. E evoca o ajuste politico das revistas de 1922 a 1974,mais tolerante do que no teatro declamado,   sendo certo que entretanto abriu e fechou um pouco significativo Teatro ABC, e sendo certo também que as outras salas e com elas o próprio Parque, perderam o brilho… (cfr. “Lisboa História Física e Moral” –  ed.2008).

Ora bem: em matéria de autores, temos aqui referido as incursões revisteiras de grandes dramaturgos portugueses: citamos, como mero exemplo a “Terra e Mar” de Alfredo Cortez. Mas refira-se que se verificou, a certa altura, como que uma “profissionalização” dramatúrgica da revista.

Terminamos assim com a evocação “histórica” mas recente da chamada Parceria – João Bastos, Félix Bermudes e Ernesto Rodrigues, que durante anos alimentaram, com qualidade e atualidade, o espetáculo de revista em Portugal.

Hoje, quem garante a qualidade do espetáculo é Filipe La Feria, que, entre outros géneros de espetáculo, recuperou o Politeama para  o Teatro de Revista.


DUARTE IVO CRUZ