O tempo dos homens também se alisa no Natal
Que era assim mesmo o mundo, prosseguia.
Que só às vezes uma asa de sonho era vista muito ao fundo
Que as mãos e as palavras prescreviam e prescrevem eternos adiamentos
Eu conheço a doença que nos deixa ficar neste estado – insistia.
E ele era de uma magreza seca de tão gordo e a mulher dele uma melancolia pegada à pele de tão antiga e tão, tanto, tanto estimada esposa que lhe dera 4 filhos num cesto jubilado.
Todos os dias de lareira 25, enterravam as palavras,” morte nossa de cada dia”; levantavam os caídos com prendas cujos laços em tempos eram panos de lágrimas, mas não naquele dia. A verdade, é que para ali chegados, tinham dormido muito, tinham alisado o tempo, tinham feito muitos discursos sobre o nada. Ainda sonolentos
naquele dia, por detrás de um olhar de coração cego, os olhos não se vestiam a preceito para perguntar às estrelas:
Sois tão pequeninas ou dormis? Nós não podemos subir até vós. Temos de ir dormir lá longe no deserto, uma vez mais, dormir. Amanhã é Natal e os necessitados são os nossos juízes de paz. Eles sabem o quanto a vida é insegura: que não há reencontros, nem pátrias, nem canções, nem misericórdia, nem pão, mas permitem-nos crer.
Então, Inventa-se uma ilha, e é Natal.
O mundo escuta, vê e aplaude.
Teresa Bracinha Vieira
Dezembro 2016