O TEMPO E O AMOR
Diz-se que o tempo sempre se anuncia e com ele se intui o que se pode e o que se não vai poder nunca. É uma espécie de condenação definitiva que se admite de uma forma ou de outra.
E o que fazer do conhecimento dos olhos quando de frente para nós despertam cheios de imensidades e medos e perfumes que se deixam cair entre lençóis por estrear?
Não há que procurar razões, nem sentá-las em sofá que as sossegue. O território tem a força do aço e a sua violação implicações fortíssimas na vida-a-vida que se diz não perceber, não designando essa afirmação real estado.
E hesita-se mais e uma vez mais ou, nem se hesita, recusa-se o que em sonho desperto nos mantém aptos a acreditar que porventura um dia será diferente.
A lógica é excessivamente familiar e reduz sempre a metade qualquer coisa por nascer.
Assim e de outras formas se aceita ser clandestino junto e para além da fogueira que, quando perto ou por tão perto e de tão perto, se fecham os olhos com a ajuda das mãos porque tão perto é demais.
O silêncio mais profundo apodera-se de nós, quando a possibilidade é o calar, num brutal movimento de fogo.
Um dia, um dia de país não esperado, todos os obstáculos são vantagens e enfim de súbito, de jorro, de esperança desalmada, tudo acontece. A densidade é tão segura quanto a dimensão da clareira que ora se permite. O sentido último da vida faz sentido por instantes: ao rubro.
Só o tempo é esquivo. Essoutro coto de vela.
E, antes que alguma ausência se sobreponha, antes que outro antes faça face ao que se vive, antes que o futuro possa não acontecer e antes que eu mais não possa, deixa que te diga
Meu Amor
Teresa Bracinha Vieira
Publicado pelo António Alçada Baptista na Revista Máxima em 1999
Obs. Em 2006/07? Tive oportunidade de ver uma retrospetiva de Palermo no Kunsthalle Düsseldorf. Fiquei sensível ao seu trabalho e tento saber até onde vai a minha curiosidade desde então. Daí esta escolha de hoje, e, que seja bem recebida também no site de Alçada Baptista já que foi a seu pedido que escrevi este texto há 19 anos sobre o tempo e o amor.