OS 150 ANOS DA "HISTÓRIA DO TEATRO PORTUGUÊS" DE TEÓFILO BRAGA
Há 150 anos, Teófilo Braga publica uma “História do Teatro Português”, assim exatamente designada e que merece destaque, quer pela personalidade e carreira literária e política do autor, quer pela qualidade dos textos então reunidos e que de certo modo constituem uma das primeiras abordagens sistemáticas da evolução global da literatura dramática portuguesa. Isto, sem pôr em dúvida obviamente nem os textos e estudos que historicamente o antecederam, nem a globalidade sempre assinalável da obra do autor.
Vale pois a pena assinalar e transcrever, quando adequado, passagens desse estudo, no que se refere designadamente, mas não só, à época iniciática da nossa dramaturgia. E desde logo na iniciação histórica.
E pois desde logo, no que respeita ao chamado arremedilho, termo que surge num documento promulgado por D. Sancho I em 1193, autorizando uma doação a dois jograis, de seus nomes Bonamis e Acompaniado, documento esse recolhido por Santa Rosa de Viterbo e citado por Teófilo.
Segundo o documento, os jograis formulam como que uma quitação:
“Nós, mimos acima referidos, devemos ao Senhor nosso Rei um arremedilho para efeito de compensação”.
A esse respeito, Teófilo coloca uma questão:
“Começaria o teatro português pelas pantominas rudes, e não conheceria o nosso povo outra forma, por isso que a única designação dramática inventada por ele foi a palavra bonifrate (nome puramente português dos espetáculos a que os espanhóis chamaram títeres e os franceses marionettes)”.
Mas avancemos no tempo e na História do Teatro.
Em 1543 Teófilo situa a “Prática de Oito Figuras” de António Ribeiro Chiado, falecido em 1591, e que, designadamente nesta peça, aborda uma situação geopolítica bem própria da época, numa dupla perspetiva de expansão colonial e de reforço da política europeia.
Trata-se então agora de uma frustrada tentativa de ocupação da Argélia por Carlos V, e à negociação com D. João III para o casamento do filho do Imperador com a Infanta Dona Maria, filha do Rei de Portugal.
Mas mais interessante, no ponto de vista histórico, será então o “Auto das Regateiras”, este escrito também por Chiado agora em 1459, e que, como escreveu Teófilo considera nada menos do que “precioso para a reconstituição da sociedade portuguesa no século XVI; a ação é frouxa, um simples casamento, tratado pelos pais dos noivos, celebrado com palavras de presente, mas os tipos é que são acentuadamente característicos e os ditos graciosíssimos expressos por modismos e locuções de viva poesia”, nada menos!
E assinalam-se ainda, na mesma época, dois dramaturgos de destaque.
Jorge Ferreira de Vasconcellos (1515-1585) escreveu três comédias: “Eufrósina” (1555) e “Ulissipo” e “Aulegrafia” cujas datas são questionáveis. Em qualquer caso, como escreveu Maria Odete Dias Alves, na tese de licenciatura da Faculdade de Letras de Coimbra (1971) “povoa o palco de figuras portuguesas e da sua época: é o ambiente de Quinhentos que vive nas suas páginas”.
E cite-se ainda António Prestes, que a partir de 1565 escreve uma série de peças compiladas em 1587, e que mereceram de D. Francisco Manoel de Melo, no “Hospital das Letras”, um rasgado elogio: “Gil Vicente, o primeiro cortesão e o mais engraçado cómico que nasceu dos Pirenéus para cá. A quem se seguiu, e não sei se avantajou, António Prestes”!...
Voltaremos a este temário. Mas apraz-nos desde já lembrar que Luís Francisco Rebello cita a “História do Teatro Português” de Teófilo Braga como a primeira editada em Portugal (1870-1871).
Mais veremos em breve.
DUARTE IVO CRUZ