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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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OUTUBRO 2021

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    Jonathan Meese

 

Se se pensar que os homens são os seus próprios vírus, a sua própria pandemia, a razão do seu confinar, será tudo pela similitude das suas interdependências, não obstante fecharem as fronteiras uns aos outros para riso dos vírus que transportam.

E quais os sintomas de tudo isto? Alguém contatou com um positivo? Mas afinal não somos todos positivos? E assintomáticos? Não estamos todos a correr os riscos hora a hora de várias mortes? A social, a psicológica, a que parou a economia? A que nos enterra?

Melhor mesmo será que todos fiquem em casa e bem-comportados antes que o vírus anuncie, através dos homens que o albergam, que em casa, nada existe porque existe tudo igual.

É certo que o nosso vírus não descuidou o tirar-nos a liberdade. Ninguém o viu solto por aí, e foi-lhe acessível a façanha.

E tortura e mata e só quando os homens, e neles, o vírus, estão em casa, então os pássaros cantam e o céu é mais azul.

De uma boa quarentena precisa-se de quando em vez. Mas credo! gritam os vírus aos homens: não acreditem nos pássaros ou nos peixes que surgem! Trata-se apenas de uma faixa deles, é o que resta.

A grande vantagem é que o ADN em homens e vírus é o mesmo e todo ele um único poder.

A biopolítica é opaca e o controlo não é democrático, aceitando-se que assim seja.

Homens! – grita o vírus - saibam criar rutura à vossa nova religião! Quero testemunhar! Sou a vossa eterna companhia. Sou ateu.

Ou preferem continuar a encomendar os almoços, a fazer compras on line, a encharquem-se de notícias minhas, a autoimpedirem-se de estar com os amigos, a fazer ginástica em casa que o ar faz mal, mesmo que eu esteja no vosso suor…xiu…que ninguém sabe que os que não me têm, sempre tiveram.

Mas façam muitos testes serológicos se desconhecem que as subidas e as descidas se assemelham.

Enfim, nos lares já se colocaram os velhos que nunca souberam para onde iam. Mas recomenda-se: afastem-se o suficiente dos destinos solidários pois trazem danos colaterais e sequelas ao nosso modo tradicional de ser agora e no futuro.

Não se recordem se na base da pirâmide estão os que muito sofrem com as encapotadas pandemias de sempre. É assim mesmo!

No entanto, ouvem-se cantares ao vírus pelos homens dos decretos, e fingem que o que nos fulmina a todos é passageiro, e eles perdigueiros competentes, admitem primeiro, socorros às coisas ditas sérias, e depois aos outros, e no muito ao fundo se incluem, talvez os artistas…e, claro os poetas.

Assim se chegou ao hoje quando as boas-noites se dão a ninguém.

Apenas se ouve um eco que afirma que haverá uma existência sem vírus porque tudo, tudo será virtual.

Os portadores do vírus já não serão humanos, o próprio vírus não se assume.

Mas, por enquanto todos querem voltar ao antigamente!

Aí sim! 42 famílias têm tanto quanto metade da mais pobre população mundial.

Quem não quer voltar a este oxigénio?

Olhei para a televisão e de novo o registo de que se aceitou que a democracia não fosse a grande força da incrível capacidade de vivermos juntos.

Não se aceitou que a democracia engloba a não entrega de liberdades, a não desflorestação, os consensos, o não matar o que nos dá vida, o não secar das águas, o não envio das imunidades por cunhas, sem que por detrás das máscaras se tivesse de gritar muito improvavelmente:

Uma vacina para o mundo!

Deus! que as acumulações de forças dos governos não sejam do poder pelo poder, reforçando-se o monstro face à solicitude com a qual lhes são entregues dados privados em todas as vagas.

Antes sim, os governos devem governar como desejam os que neles votaram sem apelo à solta da delegação de poderes.

De recordar igualmente que a marcha da democracia só tem caminho se ninguém aceitar a rota da pandemia fiscal.

Não continuemos a tratar os sobreviventes como os mais frágeis, bem basta que por poder consentido, eles suportam o cerco da minada doença da fiscalidade que, não obstante o sofrer que inflige, nunca reduziu as desigualdades, e a impunidade desta doença é tão despudorada que sempre aos mesmos é exigido, o esforço de recuperar as finanças públicas.

Enfim, se se pensar que os homens são os seus próprios vírus, a sua própria pandemia, a razão do seu confinar, e que tudo assenta nas suas interdependências, não obstante fecharem as fronteiras uns aos outros para riso dos vírus que transportam, talvez se entenda que a crise é também a da oferta e da procura e é uma crise estrutural, e que as diferenças salariais são promíscuas e sendo as medidas repetitivas, não estamos de todo no bom caminho.

Também um dia, um dia o amor empobreceu, lá onde o seu sentir fraquejava já mesmo no poder de recobro.

Uma vacina para o mundo é tão só o mesmo que um dia da ira dos seres de boa vontade!

E estes viandantes ainda caminham!

 

Teresa Bracinha Vieira