Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

PAUL CELAN

Um sábio de flores

 

Nasce na Roménia em 1920 e apesar de seus pais terem sido deportados para um campo de extermínio, onde morrem, Celan sobrevive ao Holocausto apesar de se encontrar até 1943 preso num campo de trabalho.

Mais tarde vem a fixar-se em Paris.

Este poeta romeno também traduz, nomeadamente Shakespeare e Pessoa. Em 1970 suicida-se no Sena.

João Barrento numa tradução e posfácio de um livro de Celan – A Morte É Uma Flor, editado pela Cotovia, dedica

Para a Yvettte Centeno, que sabe, como Celan, que a morte é uma flor.

No poema de Celan:

 

A morte é uma flor que só abre uma vez.

Mas quando abre, nada se abre com ela.

Abre sempre que quer, e fora da estação.

E vem, grande mariposa, adornando caules ondulantes.

Deixa-me ser o caule forte da sua alegria.

 

A professora Doutora Yvette Centeno, professora da Universidade Nova de Lisboa,  entre outros autores, também traduziu Shakespeare Brecht, Goeth, Fassebiner, Paul Celan.

Imagino-a em Celan num campo aberto à batalha dos pensamentos. Imagino-a hóspede de caminhos de Paul Celan, onde habitou a própria linguagem das coisas últimas, das coisas quase, quase silenciosas.

Para mim, ler Celan, sempre significou, morar numa oficina onde inacabadas peças se casam com obras de uma completude quase total e, não necessariamente dramática, já que a escrita, quando nua, é também esperança e história de uma linguagem, que se escreve a cada dia.

Por essa mesma razão entendo que ler Celan passará sempre pelo entendimento de que a disponibilidade da sua poesia à revelação, não é silêncio; é mesmo a necessidade do que o poema tem de ser: registo de circunstâncias, memória e prece.

Leia-se neste livro a que acima me refiro:

(…)

Com os olhos de uma criança, com

os olhos da sua mãe

encontro eu a minha segunda,

a minha primeira janela.

 

E eis também a possibilidade de o poeta ter conhecimento do quanto o universo é um brinquedo dos deuses, ou coisa já criada, na qual, quem joga é quem é jogado, e a mutação do jogo é afinal a quase imobilidade da vida, ou sua inicial esperança.

E não se terá conformado Celan com a condição da vida que lhe coube, nem com a morte prematura de Walter Benjamin – ensaísta, filósofo e sociólogo judeu alemão - que coincide com o pulsar literário de Celan.

A este respeito leia-se João Barrento referindo-se às obras de Benjamin e de Celan, numa impressionante e prodigiosa digressão sobre a relação virtual entre Benjamin e Celan nas palavras de Eduardo Prado Coelho.

Enfim,

quando Celan visitou heidegger, e passearam
pelo bosque antes da chuva, ao despedir-se escreveu
no livro da casa sobre a esperança de uma
palavra a vir no coração

Afinal pedia Celan uma palavra, apenas uma palavra, e que fosse ela tudo, sem sonhos que a confundissem, nem exigissem uma alma junto ao Sena.

 

Teresa Vieira

Sec:XXI