PERIVALDO LÚCIO DANTAS
Foi-se embora hoje de entre nós, impaciente de encontrar sua mãe lá num céu exclusivo onde a colocara desde sempre.
Mesmo mendigo nas ruas de Lisboa, convocou a vida e nela se sinistrou: «deixa a vida me levar que ela leva eu», cantarolava. E sempre dizia «vou morrer devagar, falamos mais tarde».
A palavra “solidão” franzia-lhe até as pupilas dos olhos num querer dizer “agora já sei”, e ligava como podia os encontros do tempo. Lúcio Dantas, de nome Perivaldo o que agarrava o esférico como quem doma o mistério. Perivaldo que tanto sofria com a solidão, deixou-nos sozinhos neste atoleiro.
PERIVALDO
A solidão é vagabunda no meu peito
E recorda-me de agulhão a vida feliz
Com minha mãe
Única visita na minha saudade
A porreta dona Antonieta
Plumazinha de tanta força
Que me ensinou que quando a coisa me assustasse
Enfrentar o fim
Não seria realidade que pudesse sequer atrasar
Antes jogar, driblar e levantar-me mesmo sem saber
Então, depois ou agora
Para onde quero ir
Teresa Bracinha Vieira
28.07.17