Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE DANIEL JONAS

  


Opacidade


Estúpido outono

a tudo impondo sua ferrugem
como num velho armazém de ferragens
a artrose ganhando dobradiças
e as espirais
a parafusos zonzos.


E estas árvores são também

impossíveis: árvores
como furgonetas com seus toldos
esvoaçantes, rangendo
a grande dor da
mudança.


Estúpidas árvores: cada copa

um enleio de fios,
uma instalação eléctrica pública
de Calcutá, fundindo
o céu, seu
capote puindo.


Ou este outono é só

uma betoneira
regurgitando o seu betão zonzo.
Estúpido outono. E que erro
tomar os meus olhos
por um aterro!


in Os fantasmas inquilinos, 2005


Opaqueness


Stupid autumn

imposing its rust on everything,
arthrosis conquering the hinges
and the spirals from
giddy screws
like in an old hardware warehouse.


And also these trees are

impossible: trees
like vans with their flying
canvas covers, grinding
the great pain
of change.


Stupid trees: each top

an entanglement of wires,
a public electric installation
out of Calcutta, smelting
the sky, fraying
its canopy.


Or this autumn is just

a concrete mixer
regurgitating its dizzy slime.
Stupid autumn. And
what a misconstruction
to take my eyes for
a building plot!


© Translated by Ana Hudson, 2010

in Poems from the Portuguese