Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE RAQUEL NOBRE GUERRA

  

 

Com Adília, Sophia e um contemporâneo meu
para Miguel-Manso


Quando escrevo apanho e desapanho o cabelo
mas não se vê nada dos traçados de trigo
o vento exprime-se de sensação conchiolina
cruza-me hiperlírica de alheio sentido
estou curta ribeirinha metida entre astros onde anoto
este sonho de plano egoísta, passo à guia
[cavalos persa
de imaginação passo-os a animais livres para dentro
como se o mundo fosse Platão –
apagaram-nos a matéria comburente do paraíso
a abstracção miúda como viris enterrando fundo
e os muros que temos não são nada disso de hortênsias
são silvas lagartos tijolos daqueles que não se pode
subir
esmurrando-os temos a força cega do indício, um país
do outro lado sucedendo à nossa maneira
entramos-lhe de inteiro enrolamo-lo [à escala dos pés
para que nenhuma das imagens dezenas prestes
a este silêncio suba mais que este argumento
trazemos a magreza útil a luz e o gume bem medidos
frutificamos para o veneno certo.


2012, Groto Sato
Mariposa Azual
© Raquel Nobre Guerra


With Adília, Sophia and a contemporary of mine
to Miguel Manso


While writing I tie and loosen my hair
but nothing is visible on the rows of wheat
the wind blows in conchiolin sensations
goes through me in alien hyper-lyrical meanings
a short little stream running among stars where I jot down
this selfish plan of a dream, I give way to the guide
[persian horses
of imagination I turned them into free animals inside
as if the whole world were plato –
the paradise oxidizing matter has been obliterated
the mingy abstractions are like deep burying virilities
and the walls on offer aren’t made of hydrangeas
they’re brambles lizards insurmountable
bricks
as we crack them we hold the blind force of the traces, a country
on the other side happening in our manner
we dive straight into it we role it in [at foot level
so that no image from the dozens ready
for this silence may rise above this argument
we bring up the useful meagreness the well measured light and edge
we fructify for the precise poison.


© Translated by Ana Hudson, 2020
in Poems from the Portuguese