POEMS FROM THE PORTUGUESE
POEMA DE VASCO GATO
Os cães dormem…
Os cães dormem finissimamente. Vejo-os resumidos em
torno do chão, peneirando serenos as dunas do sono. Já
eu, reproduzo a insónia de uma forma quase fabril: de hora
em hora, de noite em noite. É a metalurgia de algo que não
funde, eu e a fornalha das minhas burlas, dos meus
prejuízos. Entendo que cada homem, superando o receio
de excomunhão, devolva o seu corpo à indiscrição. Corpo
no mundo como rusga. Revirar tudo, farejar como os cães
a flor absurda do prazer.
in Rusga, 2010
The thin sleep…
The thin sleep of dogs is finest. I see them summoned
to the floor, serenely sifting the dunes of sleep. Whereas I,
I produce insomnia like a factory line: hour by hour, night
by night. It is the metallurgy of something that can’t be
welded, me and the furnace of my deceits, of my
losses. I’d postulate that every man, overcoming his fear
of excommunication, should hand his body over
to indiscretion. His body prowling the world. Overturning
everything, sniffing like a dog the absurd flower of pleasure.
© Translated by Ana Hudson with Gabriel Gbadamosi, 2012
in Poems from the Portuguese