POEMS FROM THE PORTUGUESE
POEMA DE DAVID TELES PEREIRA
Um pouco mais que Haiku de amor
Tenho medidos os dias a cigarros, rápidos e imprecisos,
fumados até ao litoral dos teus olhos. Continuo…
no mesmo sítio de sempre, devolvendo
às cadeiras o sorriso emprestado pela familiaridade
dos seus gestos tão pouco poéticos.
Tenho acertado os dias pelos copos e agora
estão – ou estarei eu? – vazios. Vai-me pedindo
mais uma cerveja, que eu vou convocar
certos demónios no espelho da casa de banho e, depois,
beber um pouco de água opaca, lavar bem as mãos, secá-las
e regressar à mesa quatro minutos menos feliz.
Não morras nunca, digo-te, acrescentando logo a seguir
que, mesmo assim, não quero falar da morte,
muito embora – desculpa-me a insistência –
o teu cabelo hoje me pareça mais preto que nunca.
Sorris.
É o que me vale, sabes sempre sorrir tão bem.
in Criatura nº4 Dezembro, 2009
Somewhat more than a love Haiku
I’ve measured out my days with cigarettes, quick and inaccurate,
smoked down to the seaside of your eyes. I remain…
in the same old place, returning
to the chairs the smile, borrowed from the wont
of their non-poetic gestures.
I’ve counted up my days with bottles and now
they are – or am I? – empty. Order
another beer for me while I summon
certain demons at the lavatory mirror and afterwards
have a few gulps of unclear water, wash my hands, dry them
and rejoin the table less happy by four minutes.
Don’t you ever die, I say, immediately adding
that, nevertheless, I don’t want to speak of death,
even though – sorry to insist – today
your hair seems darker than ever.
You smile.
That will keep me going, you can always smile so well.
© Translated by Ana Hudson, 2012
in Poems from the Portuguese