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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE MARIA TERESA HORTA 

  


Português


Se a língua ganha
a dimensão da escrita
E a escrita toma
a dimensão do mundo
Descer é preciso até ao fundo
na busca das raízes da saliva
que na boca vão misturar tudo
Mas há ainda a pressa do papel
que no tacto navega a brusca seda
Se a sede se disfarça sob a pele
descendo pela escrita essa vereda
E já se inventa
Enlaça
Ou se insinua
Se entrelaça a roca e o bordado
que as palavras tecendo
lado a lado
querem do país a alma nua
Aí podes parar
e retornar à boca
Esse espaço de beijo e de cinzel
Onde a fala retoma a língua toda
trocando a ternura
por fel
Um lado após o outro
a dimensão está dita
O tempo a confundir qualquer abraço
entre o visto e o escrito
Espelho e aço
Nesta fundura boa
e mar profundo
Para depois subir a pulso
O mundo


in Inquietude, 2006


Portuguese


If the tongue gains
the dimension of writing
and writing takes on
the dimensions of the world
We must go deep
searching saliva’s roots
in the mouth where all is mixed
And there’s still the paper’s haste
its touch steering rough silk
Even if under the skin the disguised thirst
streams through the trail of words
And already it creates
Envelops
Insinuates
Interlaces the spindle with the stitch
as the words weave
along the line
wanting the country’s naked soul
There you can halt
and return to the mouth
That space for the kiss and the chisel
Where the voice reclaims the whole language
exchanging tenderness
for bile
First one side then the other
the scale is settled
Time fusing the embrace
between what is seen and written
Mirror and steel
In this pleasing depth
the sea unfolds
Then with effort lifts up
The world


© Translated by Ana Hudson, 2010
in Poems from the Portuguese