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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POESIA

  


1.

E se nada aconteceu, devia ter acontecido

como coisa diferente da vida; como realidade que se pode

oferecer numa côdea barrada de creme de sentir e cujo sabor

não compete sonhar,

porque assim,

tudo em conjunto,

foi tornado outro.

Tratou-se de uma manufatura de realidades que se expuseram

a partir da mesma matéria-prima,

e quando a arte lhe deu diferença,

ela mesma, sentou-se à mesa

na pressuposição de que os olhares se encontravam

enquanto a chuva caía, o frio apertava, o som do trovão

de já longe aos ouvidos chegava,

e qualquer deslocamento das horas era novidade de asa,

era coisa que parecia tarefa concluída,

enorme fósforo, num alumia,

e que afinal não sabia

o que fazer de si

 

2.

Improfícua a doçura

do final de tarde

se o cavalo se não despede

nem está de volta

ao lugar da sua razão

 

3.

E que mistérios se deram a conhecer quando em vão se procuravam

tornar outros?

Que mistérios se aproximavam da cama

naquele embate quase físico de ali mesmo?

eles, ou coisa análoga,

a serem consciência que recebe o anúncio:

grato beijo.

Que mistérios não sei do quê ou de quem

que quase choro, vendo-os

esclareados diante de mim,

no processo do pensar e do decompor,

no recreio do poema que começa a conhecer-se

quando o sono, como nenhum outro, no elétrico da manhã,

já me canta para que não pergunte assim


Teresa Bracinha Vieira