POESIA
4.
Hoje, aquela angústia antiga que comigo privava,
perdeu a sua realidade.
Virou a esquina.
Deixei, pois, de a esperar nos corredores ou de a recear nos sonhos.
Mas, de repente, algo remoto e pontiagudo
surge e perco o alinhavo.
Logo me soa um urro, um urro que parecia que se trovoava a si mesmo,
enquanto a angústia regressava,
muito sensível,
muito sensibilizada
5.
Se nos tornamos iguais à vida,
plenamente adaptados,
ser feliz é uma doença regular.
Fala-se dos filhos, dos netos, dos amigos, dos conhecidos,
de outras coisas e almoça-se.
Também se festeja a coisa nova que só o é uma vez.
As horas,
as horas são tratadas com amabilidade.
As preocupações: símbolos da razão ponderada,
parecem ser o fim para o qual tende o esforço:
estar sossegado nos arredores das guerras,
acreditar que obra se fez
e ainda, se possível, vencer ao contrário, isto é,
fazer um grande avanço do avesso
para que tudo junto
venha a constituir o triunfo
do há-de.
Depois, estatura média, algo franco e algo astuto, afável mesmo,
não gordo, sorriso que aplaude o pensar,
sem hesitação,
sem pena,
mover-se é viver
6.
O cavalo galopava sempre.
A lembrança que tenho dele é toda assim:
conhecia bem o poente e a esperança;
tinha a cor de um luminoso desespero:
esteve em Bizâncio.
Não esperando que o aguardassem,
a ninguém fora nunca
destinado.
Não tinha um fim.
Era solto movimento
sem começo
7.
Imaginei-me liberta nas ilhas,
no cumprimento do meu ser.
Moça dos correios dos mares,
parte de mim ficava neles todos
e a outra parte
de mim,
em quem me lê
Teresa Bracinha Vieira