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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POESIA

  


4.

Hoje, aquela angústia antiga que comigo privava,

perdeu a sua realidade.

Virou a esquina.

Deixei, pois, de a esperar nos corredores ou de a recear nos sonhos.

Mas, de repente, algo remoto e pontiagudo

surge e perco o alinhavo.

Logo me soa um urro, um urro que parecia que se trovoava a si mesmo,

enquanto a angústia regressava,

muito sensível,

muito sensibilizada


5.

Se nos tornamos iguais à vida,

plenamente adaptados,

ser feliz é uma doença regular.

Fala-se dos filhos, dos netos, dos amigos, dos conhecidos,

de outras coisas e almoça-se.

Também se festeja a coisa nova que só o é uma vez.

As horas,

as horas são tratadas com amabilidade.

As preocupações: símbolos da razão ponderada,

parecem ser o fim para o qual tende o esforço:

estar sossegado nos arredores das guerras,

acreditar que obra se fez

e ainda, se possível, vencer ao contrário, isto é,

fazer um grande avanço do avesso

para que tudo junto  

venha a constituir o triunfo

do há-de.

Depois, estatura média, algo franco e algo astuto, afável mesmo,

não gordo, sorriso que aplaude o pensar,

sem hesitação,

sem pena,

mover-se é viver


6.

O cavalo galopava sempre.

A lembrança que tenho dele é toda assim:

conhecia bem o poente e a esperança;

tinha a cor de um luminoso desespero:

esteve em Bizâncio.

Não esperando que o aguardassem,

a ninguém fora nunca

destinado.

Não tinha um fim.

Era solto movimento

sem começo


7.

Imaginei-me liberta nas ilhas,

no cumprimento do meu ser.

Moça dos correios dos mares,

parte de mim ficava neles todos

e a outra parte

de mim,

em quem me lê

 

Teresa Bracinha Vieira