POESIA
ODISSEIA (1)
Se a vida tivesse forma de escrita, letra a letra descobria-se o verbo.
I
E quando o peito incumbe que às costas também seja dada atenção,
a aprendizagem inicia-se.
II
E se o que nos ocorre fosse uma cópia do que não nos ocorre?
E se existisse um tempo em que tudo quanto dele saísse
o espelho devolveria?
E se os meus passos fossem recibo do caminho?
E se tropeçar, como em tudo se tropeça,
viesse de um subir para cair de mais alto,
de mais perto de Deus?
III
Digo:
as palavras estão unidas por uma argamassa
colocada num ritmo que as ensina
a dizerem-se.
Depois olham-nos sim, são elas que nos olham a nós,
e para lá de nós.
IV
Por erro e por defeito quero as palavras dos versos
que como sapatos descansam de seu pé.
Quero a vida que vivo nos poemas
e por eles todas as vésperas
dos ângulos que vou conhecendo;
todas as estrelas azuis que cumprem os destinos,
e quero-as muito
quando findas e mudadas,
se aproximam pelos ramos de altas copadas
ao fundo das coisas
sem culpa.
Teresa Bracinha Vieira