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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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POESIA

ODISSEIA (1)

Se a vida tivesse forma de escrita, letra a letra descobria-se o verbo.


I


E quando o peito incumbe que às costas também seja dada atenção,

a aprendizagem inicia-se.


II
 


E se o que nos ocorre fosse uma cópia do que não nos ocorre?

E se existisse um tempo em que tudo quanto dele saísse

o espelho devolveria?

E se os meus passos fossem recibo do caminho?

E se tropeçar, como em tudo se tropeça,

viesse de um subir para cair de mais alto,

de mais perto de Deus?


III


Digo:

as palavras estão unidas por uma argamassa

colocada num ritmo que as ensina

a dizerem-se.

Depois olham-nos sim, são elas que nos olham a nós,

e para lá de nós.


IV


Por erro e por defeito quero as palavras dos versos

que como sapatos descansam de seu pé.

Quero a vida que vivo nos poemas

e por eles todas as vésperas

dos ângulos que vou conhecendo;

todas as estrelas azuis que cumprem os destinos,

e quero-as muito

quando findas e mudadas,

se aproximam pelos ramos de altas copadas

ao fundo das coisas

sem culpa.


Teresa Bracinha Vieira