POESIA
ODISSEIA (5)
XXIII
A morte é a raiz que lhe falta dentro e fora dela.
A morte só se apoia.
XXIV
Numa pausa concertada.
O olhar longe
numa ideia que é parte
de cá e de lá.
O olhar
numa entrega sem nada mais.
Sem a pergunta desnecessária.
Estorvo.
XXV
Também nos aproximamos de tudo o que inaugura um novo adeus,
um novo adeus que é apenas parte intermédia,
parte encurralada, insegura e ainda assim
experiência.
XXVI
De quantas vidas necessitamos para que se cumpra
uma morte?
Talvez se algo mudasse de sentido,
o pudéssemos saber,
mas sempre
a meia distância
de tudo.
XXVII
A morte tem de ser inteira,
sem fraude.
Os fantasmas que se passeiam nas ruas de nós,
conhecem
o quanto as mortes são
nossas experiências desarmantes,
o quanto não basta
cronologicamente arrumar
as circunstâncias.
XXVIII
A eternidade também nos esquece.
Sobretudo se já tivermos iniciado
a abolição dos pretextos,
esses mesmos que não aprenderam a morrer
nem a viver.
Teresa Bracinha Vieira