POESIA
O dia de hoje é um dia por si só
E como teu melhor amigo venho buscar-te para atravessarmos o bairro pois temos de fazer alguma coisa
O nosso destino não é lugar algum nem tem nome
Nós não existimos lá, lá no nosso destino
Vá, sobe a bordo,
agora o teu lugar no mundo vai reconhecer-te e esperar de ti porque estás a atravessar o bairro que se esvazia
e, no entanto, nós a bordo, com a mesma densidade agora mesmo
Nós no nosso bairro, sim, aqui e as ondas férreas, o seu impacto sem precedentes com todos os riscos em nós, mas nós fortes e saudáveis, sentes, não sentes? mas há uma dormência, uma ligeira dormência no rosto, provavelmente sim, é isso, mas não, não permitas que se mostre acidental a destruição do nosso bairro
pensa o quanto o nosso longo cabelo branco é assimétrico no crescer, é incontido no branco e não há nada mais tecnologicamente sofisticado que se assemelhe à sua condição e causa
Podes crer que a tua companhia fez a diferença, sim
o bairro já põe um pé à frente do outro, a água é água de novo, o dia de hoje é um dia por si só, nada hoje foi como costuma ser, nenhuma dúvida quanto a isso, e sim, safámos o bairro por um triz, sim,
tanto quanto podíamos
Teresa Bracinha Vieira