POESIA
1.
É manhã.
Desce o sol
como uma voz que chama o dia.
A vontade, o pássaro, o sonho, a sede, o farol,
as escadas insubmissas
tudo em nome de uma outra colheita, de uma outra raiz
que a vida vale a pena
que ela, nossa medida, nossa casa
não se adia
que a necessidade de abrigo
nos move a construir o habitável
2.
É manhã.
Não sei medida ou cálculo
para este céu total;
cor e hora únicas
e não, não está feita a minha palavra para dizer
tanto
3.
É manhã.
Com o ouvido no ar
escuto um segredo
de um anjo inicial e exato
e quanta tranquila degustação
ó sabor antes de mim
ó pão cheiroso
que não sou mais que este estar
4.
É manhã.
Tudo em teu redor – horizontes, terras, mares-
tudo transborda uma essência imensa, e, todavia,
solitária eu e do que sinto
me sorrio, como uma criança,
que se deixa lamber por ti
guardiã
da alma
só e vasta
5.
É manhã.
Não me importa que outros ames
ou que te amem, pois o que eu amo em ti,
tu não o sabes nem os outros o sabem,
nem eu sei que não sei,
mas em ti sou
e ficarei
se partires
Teresa Bracinha Vieira