POESIA
E digo que eterno é isto que vivemos
Michelangelo
1.
E digo que eterno é isto que vivemos
mesmo quando fingimos ser aqueles
que na noite andam sempre à frente
das mãos que não seguram
o candeeiro
da viagem ainda por fazer
2.
E digo que eterno é isto que vivemos
quanto transpomos os ferros, as vésperas, as ânsias,
os sonhos em que nos abandonamos
as saídas que nos dizem o quanto dos escuros
se extraem caminhos certos
3.
E digo que eterno é isto que vivemos
com as pianolas nas promessas de todos os amores
acontecidos
e por acontecer
porque esses respondem ao chamado
se mesmo inseguros
o medo não for nosso
4.
E digo que eterno é isto que vivemos
ao encontro de mapas sumidos
que nos destacam o porto
o pão e a flauta
para ali morarmos por uns tempos
até ao erro de querermos anexar mundo
e ser muito tarde, muito noite
e não sobrar consolo.
5.
E digo que eterno é isto que vivemos
o lugar, a casa, a grande mesa,
o tempo sempre insuficiente do amor
e o amor
ainda a acariciar-nos o olhar
esse que já viu inexistências e deleites
e ele
o amor
a ilibar-nos
Teresa Bracinha Vieira