PORVENTURA VERSOS
28.
Aberta a história
Espreitam-se os sonhos da humanidade
Ou do seu aniquilamento
Aberta a história
Não se descortina sequer a sua cronologia
Pensa-se então no fazer de novo
Como se na anterior história que espreitámos
Não tivesse havido um antes
Posto que não ouvimos nem lemos
Uma linguagem que o exprimisse
Então, dizia-se, abre-se uma nova história
Dotada agora, da vitória, logo no início
De nela se deixar ver uma absoluta liberdade
E eis num crescendo a lente baça do homem desvinculado
Do desafio do amor
Tão perto de nós e tão dentro do oráculo
Eis-nos de frente para o homem que desconheceu
O fascínio
Ou a tragédia do perdão
O caminho de Cristo em Deus
Ou o poema de Régio
Fechado na sua mão
Exposta e imitada a história
Ali
Numa idade de oiro seco
Que se contenta
Infinitamente
Em se deixar ver
Naquele vazio criador
Embrutecido em vícios isentos de méritos
E eis o homem na nova história
Aquele mesmo que mente sem respeito
Por si próprio
Aquele mesmo que é perito no governo
Do desprezo julgando ser poder
Desconhecer o seu buril
Nem tendo ouvido falar
Da escada que se chega às longas viagens
Da identidade do socorro
Socorro que enfim, desiste
Abraçado ao descompromisso
De conhecer que o mundo ou a história
Não são enganos
M. Teresa Bracinha Vieira
2015