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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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POSTAL A ÁNGEL CRESPO

 Postal.jpg

 

Ángel:

 

Para te dizer que julgo que ninguém sabe ainda o que está quase a mudar. Nada do que nos rodeia é como um texto que avança em conjunto, ou como um poema que não nega nem afirma o destino. Não compreendo a maioria das palavras que escuto. Sei apenas que são de um tempo obscuro e velho como o tempo a que pertencem. A luz já nos espreitou em muitos interpretares, e como me disseste

 

     Era el regalo de um reino

     E tu já tinhas escrito 

     Que un fruto de injusticia, aunque se llame

     don de lo alto, debe

     ser rechazado por la misma mano

     que lo hizo madurar?

 

Uma espécie de percepção tremenda do que se passa entre os homens. Uma evidência que já se não chama pelo nome. Mas Ángel, o meu poema continua assim:

 

     (…) Y acariciase al mundo como al lomo

     de um animal herido, por la noche.

 

E para te dizer que ninguém sabe ainda - repito -  o que está quase a mudar.
Esse aroma muito doce da falta de amor? Essa vocação?

 

Teresa

  

 

Teresa Bracinha Vieira