POSTAL A ÁNGEL CRESPO
Ángel:
Para te dizer que julgo que ninguém sabe ainda o que está quase a mudar. Nada do que nos rodeia é como um texto que avança em conjunto, ou como um poema que não nega nem afirma o destino. Não compreendo a maioria das palavras que escuto. Sei apenas que são de um tempo obscuro e velho como o tempo a que pertencem. A luz já nos espreitou em muitos interpretares, e como me disseste
Era el regalo de um reino
E tu já tinhas escrito
Que un fruto de injusticia, aunque se llame
don de lo alto, debe
ser rechazado por la misma mano
que lo hizo madurar?
Uma espécie de percepção tremenda do que se passa entre os homens. Uma evidência que já se não chama pelo nome. Mas Ángel, o meu poema continua assim:
(…) Y acariciase al mundo como al lomo
de um animal herido, por la noche.
E para te dizer que ninguém sabe ainda - repito - o que está quase a mudar.
Esse aroma muito doce da falta de amor? Essa vocação?
Teresa
Teresa Bracinha Vieira