REFERÊNCIAS AO THEATRO CIRCO DE BRAGA
Num estudo recentemente publicado, “Grande Tradições – Rituais do Nosso Imaginário”, da autoria de Helena Viegas, com prefácio de Guilherme d’Oliveira Martins, faz-se referência ao Theatro Circo de Braga, numa fotografia de mais de 30 atores, funcionários e jovens figurantes do Theatro Circo, devidamente vestidos para cena.
De notar a qualidade e exigência dos espetáculos que, já ao longo das primeiras décadas do século passado, marcavam a atividade deste Teatro: pois, como diz a legenda da foto, “podemos ver que o Carnaval no Theatro Circo era um evento de gala, com os trajes a denunciarem a pompa e o luxo da grande festa”!
Em qualquer caso, o livro descreve e documenta todo um conjunto vasto de festividades tradicionais, religiosas, populares ou eruditas que marcaram e ainda marcam em muitos casos a tradição da cultura portuguesa na sua expressão epocal. Essa tradição chega aos nossos dias como prática enraizada ou como expressão histórica, urbana e rural, e que como tal merece amplamente ser mantida, evocada ou recuperada.
E se é certo que a raiz é quase sempre de culto religioso, a característica popular profunda gera e reforça as tradições de cultura que expressa ou implicitamente assume, numa abrangência de expressão regional/ popular.
Vale a pena então evocar este Theatro Circo de Braga, fundado em 1915 segundo projeto arquitetónico de João de Moura Coutinho da Almeida.
Trata-se de um Teatro que conciliou a tradição de polivalência na própria estrutura do edifício e da sala de espetáculos, sala que se quis relevante e adequada à pluralidade de géneros que desde a origem se adotou, muito no espírito e nos costumes socioculturais da época: teatro mas também ópera, cinema, e até circo e “luta a soco” como na época se escreveu. Sentia-se uma certa e remota influência da estrutura do próprio Teatro de São Carlos, com um complexo sistema de salas de espetáculo e de público, mas em muito menor escala...
De qualquer forma, na origem, tinha 31 camarotes de primeira ordem e 15 de segunda ordem, mas esta estrutura foi em parte alterada logo nas primeiras obras de restauro, em 1924. Desde aí, houve sucessivas alterações e modernizações que aliás já tivemos ocasião de referir e avaliar.
E transcrevemos, para terminar em síntese, dois textos que constituem a abertura, digamos assim, do livro.
Diz então no Prefácio, intitulado “A Herança e a Memória”, Guilherme d’Oliveira Martins:
“A cidadania constrói-se e afirma-se com o conhecimento das raízes históricas e com uma natural complementaridade entre a liberdade e a responsabilidade, numa sociedade que cultive o conhecimento e a cultura e que não deixe ao abandono o seu património cultural como realidade viva. É o presente e o futuro que estão em causa quando nos preocupamos em conhecer melhor a herança e a memória”. E cita Alexandre Herculano, Jaime Cortesão e Eduardo Lourenço.
Por seu lado, diz a autora, no texto introdutório, que intitulou “Rituais do Nosso Imaginário”:
“É para a história do país que olhamos em GRANDES TRADIÇÕES, cumprindo uma viagem histórica que nos leva à descoberta de celebrações, religiosas ou laicas, com raízes ancestrais”. E acrescenta: “Nestas histórias misteriosas e soturnas, coloridas e alegres, destacam-se episódios do imaginário popular, com a evocação das mais importantes tradições, como resultado da apropriação dos povos de cada região”.
E assim é!
DUARTE IVO CRUZ