SONETOS DE AMOR MORDIDO
2. A UM BEIJO SEISCENTISTA
Beijei-te a mão austera castamente,
Senhora dos meus dons de trovador.
À tua espera fiquei, solenemente,
vergado à obediência do amor...
Se ousasse erguer os olhos, cegaria,
sonhando serem de Eros essas setas
do teu semblante altivo, que fugia
das minhas esperanças tão inquietas...
Cupido inventei, já que não sabia
se em teu olhar ardia ou não ardia
a sarça que, não casta, fosse pura
e ao céu clemente devolvesse a chama
de quem, ora não crendo, sempre ama
logo, com tanto amor, tanta amargura...
Camilo Martins de Oliveira