SONETOS DE AMOR MORDIDO
14. DE FERNANDO PESSOA A OFÉLIA
Ouve, meu bem: nesta noite adormeço
mágoas muitas, as tuas e as minhas,
e as que não ouves e sempre adivinhas,
e as que sei tuas e não reconheço...
E assim, é nosso amor frustrado feito
de ditas e desditas, de perdões,
de talvez sim, ou nunca, de ilusões,
de feridas perdidas cá no peito...
Por muito sentir-te, já eu me sinto
tão perdido em mim, que não sei se minto
ao te escrever, Ofélia, que te quero...
Apenas sei que sou poeta e estranho,
que tudo em mim é pequeno e tamanho,
mas implacável, fingidor e fero...
PS. Este é o nº 14 - visto que o O é a 14ª letra do nosso alfabeto. O nº 13 já "saiu", como estarão lembrados os leitores, há uns tempos atrás: era A JESUS.
Camilo Martins de Oliveira