Svetlana Aleksievitch
Dotada de rara acutilância Svetlana Aleksievitch – a escritora bielorussa – põe a nu no seu livro "O Fim do Homem Soviético" -, o que sentem os homens e mulheres da era pós-soviética, distinguindo história e utopia para que se não esqueça e entenda a razão do surgimento das características das novas gerações de russos: o período do encantamento e de decepção, a vontade de anteriores grandiosidades e a posição do Ocidente face a toda esta realidade. A URSS e a sua desagregação assumem na escrita de Svetlana a proposta de uma interpretação lucida face a uma multiplicidade de sentires ainda hoje desconhecidos, passadas mais de duas décadas da vida dos russos face a um mundo de suposta paz e claridade, afinal, sucessivamente adiado.
Conhecida escritora e jornalista a sua obra tem sido de uma atenção permanente aos testemunhos individuais que recolhe dos homens e mulheres soviéticos a quem entrevistou nos momentos mais dramáticos da história do seu país. Os seus livros já estão traduzidos em 22 línguas e muitos foram já adaptados a peças de teatro e documentários.
Eduardo Pitta, em Junho do corrente ano, chamou bem a atenção para os cinco livros publicados entre 1985 e 2012, por esta escritora, quinteto fechado com “O Fim do Homem Soviético” publicado em Portugal.
A Rússia mudara e odiava-se a si mesma por ter mudado. Assim também se iniciam os caminhos escritos das idiossincrasias da alma russa, as feridas e as quebras ideológicas, as nostalgias e os colapsos.
Seja ou não o prémio Nobel 2015, Svetlana Aleksievitch, que concorre ao lado de outros escritores como o japonês Haruki Murakami, tem desde há muito lugar cativo em quem a espera nomeada internacionalmente como escritora de lance. Que as editoras portuguesas a não esqueçam para que todos a conheçamos melhor no eleito mundo da Literatura de excelência.
Teresa Bracinha Vieira
Outubro 2015