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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

“O oposto do amor não é nenhum ódio, é a indiferença (…) o oposto da vida não é a morte, é a indiferença.”
Elie Wiesel

  


Será que não nos vemos uns nos outros e por isso não nos sabemos prometer?

A indiferença é a maior doença social do mundo de hoje, é mesmo a única que nos implora para que deixemos de ser neutros.

A indiferença é não dar à vida o que ela tem de especial, o que nós temos de expectativa em relação a nós próprios, e é ferir de morte a coesão de todos.

Está provado que a nossa demonstração de indiferença é uma das atitudes mais dolorosas que podemos projetar; é mesmo levar a uma pessoa o claro sentir de que ela não existe para nós, e pouco há de mais cruel.

Que estejamos felizes ou tristes, seja a mesma coisa para outros, é uma dor inexplicável do nosso sentir de encontro ao nada.

Vivem-se as inúmeras notícias de tragédias num individualismo exacerbado pela insensibilização que sempre se distanciou do bem comum.

Educar as novas gerações para a importância do coletivo, envolvê-las em causas comunitárias, em gestos de empatia e escuta do outro, não seria mais do que salvá-las da sua própria já mirrada condição.

Embora frequentemente subestimada, a postura passiva perante os problemas alheios, tem consequências devastadoras no tecido social, e numa era em que a informação está acessível a todos é mais alarmante e incompreensível por que insistimos em ignorar o sofrer alheio.

Não é inofensivo desviar o olhar, e também não é inofensivo o silêncio cúmplice perante as injustiças flagrantes que só perpetuam desigualdades, normalizam sofrimentos e nos desumanizam a todos.

Em grande parte, a apatia generalizada decorre sempre de almas não livres, almas de pus que nem reconhecem a inocência.

Não há que fundar mais religiões para as colocar no lugar do mundo de onde o significado partiu. Todos podemos ir além do possível, esse é o projeto.

E depois sim, o imenso começo.


Teresa Bracinha Vieira 

CRÓNICAS PLURICULTURAIS


170. DO AMOR E ÓDIO À HUMANIDADE


A destruição do nosso planeta por um holocausto nuclear estará inscrita na História da Humanidade? Hiroshima e Nagasaki foram apenas um “erro” que não voltará a repetir-se? O Holocausto foi um simples “erro” irrepetível? A guerra, como realidade histórica que tem acompanhado o ser humano na sua trajetória terrena, é irredutivelmente eterna? A presença do Homem na Terra é só destruição?     


É uma visão cruel da presença humana na Terra, que trouxe (e trará) destruição à natureza e aos humanos. Só que, olhando para a natureza, compreendemos que ela também é cruel, o que não legitima que defendamos que o mal humano é mais digerível quando o transformarmos num mal natural.     


Não foi a presença humana, em si e só por si, que trouxe destruição à natureza e à espécie humana, por muitos exemplos que haja da sua crueldade. Apesar do seu quinhão de destruição, evitável, em parte, o saldo é e continua positivo, através de um enriquecimento substancial do mundo em que habitamos. A não se entender assim, é legítimo concluir que há quem seja portador de um pessimismo intrínseco que prefere um mundo desumano e com ódio à humanidade. 


Tomando como referência a tese geral de que a presença humana na Terra é destrutiva, há quem a torne extensiva ao colonialismo (racismo e não só), que com a escravatura, por exemplo, destruiu a natureza do humano e da cultura nas comunidades locais colonizadas.


Trata-se, por um lado, de uma avaliação e generalização simplista, dado saber-se que quando os europeus chegaram o tráfico de escravos já era conhecido. É consensual que os africanos já se escravizavam entre si antes dos portugueses chegarem a África. Pode falar-se de uma questão de grandeza, uma vez que os europeus da época praticaram a escravatura (já existente) numa escala maior. O que também pode levar, por outro lado, a um incitamento ao ressentimento e à violência, começando por um certo ódio tribalizado que se pode universalizar, apesar de, à nascença, segundo Rousseau, sermos todos bons selvagens.   


E é muito pouco consensual (no mínimo) a teoria crítica da raça, segundo a qual como só os brancos tinham poder, apenas os brancos poderiam ser racistas. Os negros, não, ou, se o fossem, eram-no apenas porque tinham “interiorizado a branquitude”, tida como contagiosa para desculpabilizar os que não comungavam as novas ideias e teorias raciais. E os da Ásia e das Américas?   


Não se pretende “branquear” a colonização, escravatura e racismo, porque condenáveis na sua desumanidade, repugnância e ódio à humanidade. Mas é incompreensível só aceitar visões maximamente supremacistas, de vencedores ou vencidos, que muitas vezes apenas sobrevivem por ressabiamento e pelo odioso ao que é humano, não as contextualizando, escrutinando e confrontando nos seus prós e contras. É um discurso negativo, revanchista, vingativo, ressentido, megalómano, perigoso e vil. Há que não estimular ideologias de incitamento ao ódio, antes sim as de união e reconciliação. A lista de coisas boas é extensa e gratificante: avanços médicos, científicos, tecnológicos e as artes em geral de que o mundo beneficia. E que o nosso amor à humanidade sedimenta e amplia.


12.04.24
Joaquim M. M. Patrício