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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A CASA DA ÓPERA: DOIS LIVROS SOBRE O TEATRO DE LISBOA (II)

 

Em artigo anterior, evocamos a Ópera do Tejo, teatro régio de Lisboa, inaugurado em 31 de março de 1755 e destruído pelo terramoto de 1 de novembro do mesmo ano.

 

 Referimos então dois livros que dele se ocupam com destaque e qualidade: “Os Nove Magníficos” (ed. Clube do Autor -2017) de Helena Sacadura Cabral, analisado no artigo anterior, e “Ressuscitar a Ópera do Tejo - O Desvendar do Mito” (ed. Caleidoscópio – 2016) de Aline Gallasch-Hall de Beuvink, que hoje evocamos.


Este livro trata exclusivamente do Ópera do Tejo. E o grande mérito decorre da qualidade e extensão da pesquisa, tendo em vista sobretudo o carácter efémero do edifício em si e a pouca ou quase nenhuma atividade pública e artística respetiva: escassos 7 meses, em que terão sido levadas à cena apenas duas óperas, “Alexandre na India”, música de David Perez e libreto de Pietro Metastasio, espetáculo de inauguração do teatro, e “A Clemência de Tito” música de Mazzoni, também sobre libreto de Matastasio.

 

E diz-nos a autora do livro que estaria em ensaios outra ópera de Mazzoni, “Antígona”, também com libreto de Metastasio.  Mas essa já não subiu à cena.

 

O projeto arquitetónico da Ópera do Tejo era da autoria do arquiteto Bibiena, que permaneceu em Portugal, ao serviço do Rei e da corte, de 1752 até à sua morte em 1770. Deve ter-se arrependido em 1 de novembro de 1755, mas, passado o susto de terramoto, manteve-se em Lisboa!

 

Porém o Teatro, esse, desapareceu, e dele restaram as ruínas que aqui se reproduzem. E que são suficientes para podermos imaginar, a partir de descrições da época, a sumptuosidade desta malograda Ópera do Tejo.

 

Diz-nos Aline, pouco restou da efémera memória deste edifício: mais concretamente, restou o que é ilustrado pela gravura que aqui se reproduz e que é capa do livro citado. Mas as ruínas da Casa da Ópera servem para imaginarmos a sumptuosidade do Teatro em si.

 

O livro de Aline contem o levantamento da documentação e dos sucessivos testemunhos diretos do edifício e da sua atividade.  O que até nós chegou é a descrição de um teatro seiscentista típico, com algo como 600 lugares em plateia e camarotes, devidamente documentados na imagem das ruínas.

 

Aline transcreve um Aviso Régio assinado pelo Mordomo-Mor do Rei D. José, Diogo de Mendonça Corte-Real, onde se detalha a distribuição de lugares, na plateia e camarotes, rigorosamente feita de acordo com a hierarquia social e funcional da Corte.

 

O livro é pois extremamente bem documentado. Contem numerosas gravuras da época e fotografias de espaços onde o teatro se implantava, junto do que é hoje a Praça do Município.

 

E ainda reproduz a fotografia de uma coluna, hoje integrada num edifício posterior, coluna essa que será o que resta da malograda Ópera do Tejo, arrasada no histórico Terramoto de 1 de novembro de 1755!...

 


DUARTE IVO CRUZ

A CASA DA ÓPERA: DOIS LIVROS SOBRE O TEATRO DE LISBOA (I)


Referimos hoje dois livros que fazem a evocação histórica da chamada Ópera do Tejo, teatro inaugurado em Lisboa em 31 de março de 1755 e destruído pelo terramoto de 1 de novembro do mesmo ano.

 

Há uma larguíssima bibliografia sobre essa tragédia e sobre as consequências imediatas e as políticas de recuperação e restauro urbano.  Mas no que se refere especificamente à Ópera do Tejo, citamos então hoje os dois estudos:  “Os Nove Magníficos  - Os Grandes Reis da Nossa História” de Helena Sacadura Cabral (ed Clube do Leitor – 2017) e “Ressuscitar a Ópera do Tejo – O desvendar do Mito” de Aline Gallasch-Hall de Beuvink (ed. Caleidoscópio -  2016).

 

Ambos são de excelente qualidade. E em ambos encontramos descrições do edifício do Teatro, sendo certo que o livro de Aline comporta uma análise descritiva obviamente mais desenvolvida, até porque o livro de Helena Sacadura Cabral abarca os reinados de nove Reis de Portugal, a começar pelo fundador D. Afonso Henriques e a encerrar em D. Carlos, num período que vai de 1109 a 1908.

 

Mas mesmo assim: transcrevemos a referência detalhada à Casa da Ópera feita por Helena Sacadura Cabral.

 

Começa por referir que “contrataram-se tenores, compositores, músicos, cantores, pintores, de cenários, entre outros”. E acrescenta:

 

“Algumas descrições sugerem que a dita casa possuía um palco muito grande, em oposição ao espaço reservado à assistência que seria reduzido. Espaço de demonstração do poder, também aqui aconteceriam as disputas na precedência dos lugares que cada um ocupava e que mais não eram do que o sinal do seu estatuto na hierarquia dos poderes” (pág. 203).

 

O certo é que o terramoto, para alem da imensa tragédia em si, conduziu a situações existenciais com implicações socio-urbanas que durante décadas se fizeram sentir.

 

E o que diz a este respeito o livro de Aline Gallasch-Hall de Beuvink? Vamos ver em próximo artigo.

 


DUARTE IVO CRUZ