EVOCAÇÃO DE LUIZ FRANCISCO REBELLO NAS “MEMÓRIAS DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS”
Acaba de ser publicado o Tomo XL das Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, entidade prioritária a que me honro de pertencer.
Trata-se de uma edição em 2 volumes reunindo 54 textos de comunicações e colaborações de membros da Academia. E entre os textos, queremos aqui salientar duas comunicações de Luiz Francisco Rebello (membro da Academia) sobre temas ligados ao teatro português.
Assim, no Volume I, a comunicação evocativa, precisamente intitulada “No Centenário da Morte de D. João da Câmara”. E no Volume II, a comunicação sobre o teatro e os teatros em Portugal na transição do século, esta intitulada “O Teatro na Transição da Monarquia para a República”.
Para além da óbvia qualidade das comunicações, importa referir a abrangência temática no que respeita então ao teatro: a escrita de peças, a referência a análises históricas e críticas e a relevância do historial de peças, textos, salas e edifícios e os próprios espetáculos. Nesse aspeto, trata-se pois de uma abrangência das artes ligadas ao teatro, abrangência em si mesma da grande qualidade, o que, dado o autor, não é minimamente de estranhar!... E essa globalidade surge em ambas as comunicações.
De tal forma assim é, que o texto evocativo do Centenário da Morte de D. João da Câmara começa por citar e remeter e situar textos interventivos de Gil Vicente, D. Francisco Manoel de Mello, António Ferreira, Garrett, Eça, Oliveira Martins, Fialho, Raul Brandão, Lopes de Mendonça, Júlio Dantas, Luís Barreto e tantos mais escritores, dramaturgos e críticos e analistas, de uma forma ou de outra ligados à criação, à analise ou à crítica teatral.
E como bem sabemos, Luiz Francisco Rebello, além de excelente dramaturgo, marcou profundamente todas estas dimensões da atividade e criação da arte do teatro. Aí se inclui a dimensão de espetáculo, que é sobretudo desenvolvida como tal no outro estudo acima citado, “O Teatro na Transição do Século da Monarquia para a República”.
Salientamos sobretudo toda a referência analítica que encerra o estudo. Refere a reforma do Conservatório, que em 1911 autonomizou a Escola de Arte de Representar.
E Luiz Francisco Rebello dá um justo destaque a fatores que normalmente são esquecidos. Citamos.
De um lado, a reforma do Conservatório, por decreto de 22 de maio de 1911, “autonomizando a Escola de Arte de Representar e fazendo desta um dos estabelecimentos congéneres mais avançados do seu tempo”.
Já “a projetada reforma do Teatro Nacional veio a revelar-se pouco produtiva”.
Pelo contrário, iniciada em 1911 “a campanha vicentina em que se empenhou o poeta Afonso Lopes Vieira que arrancou ao esquecimento em que jazia há anos o autor da trilogia das Barcas”.
Também relevante o Teatro ao Ar Livre levada a efeito no Jardim da Estrela pelo cenógrafo Augusto Pina “em que se representou uma versão da Oréstia de Ésquilo assinada por Coelho de Carvalho”.
Mas diz-nos ainda Luiz Francisco Rebello, o incremento de sucessivas salas de cinema, que “já desde 1904 se tinha inaugurado em Lisboa “a primeira sala de cinema, o Salão Ideal”: mas esse incremento de salas de cinema terá sido “a mudança mais significativa e inovadora que a República registou nas áreas de espetáculo”.
DUARTE IVO CRUZ